30 março 2007

Resenha de Pierre Bourdieu - Os usos sociais da ciência.

> Por Tainã M.

Intentando desvendar os usos e conseqüências da ciência na sociedade, Bourdieu faz uma análise de sua estrutura interna e da história da ciência, explicando sua noção de "campo científico".E para tanto, explica esse conceito como "o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a ciência". Relacionando o campo científico com seu próprio contexto histórico e apenas os agentes envolvidos internamente a ele, difere de outros tipos de análise, que consideram para seus estudos apenas os textos de determinada produção cultural (literária, científica, artística, filosófica, econômica, etc.), ou a consideram dentro de um contexto sócio-econômico e suas relações com outras manifestações de campos independentes no momento histórico. O autor então define o que acha importante para a ciência da ciência, deixando clara sua crítica à correntes, como a marxista, por sua necessidade de relacionar diversos campos, analisando intervenções de elementos artísticos com fatos políticos ou literatura à manifestações econômicas. Quando o autor fala sobre a impossibilidade de autonomia total na ciência, exemplificando com as ciências sociais, que devido à sua grande > politização é uma das áreas menos propensas à libertação das leis do > macrocosmo, deixa de lado as considerações sobre as outras ciências, que > também possuem (talvez até no mesmo nível), estudiosos e instituições tendenciosas, e não considera que enquanto a ciência for feita por seres humanos não há como fugir disso, pois é impossível medir quanto das ações > dos cientistas em qualquer área, vem de sua formação, ideais e relações > pessoais refletidas em seus atos e pesquisas, e o quanto é influenciado >somente por razões científicas.> Prejudicial à conquista da autonomia científica é a estrutura de poder > existente na sociedade, que se reflete nos campos que faz muito mais fácil > a conversão do capital científico particular (poder político e status > social) em reconhecimento e capital científico "puro" do que o contrário, > sendo inevitável que um bom cientista, aplicado em pesquisas sérias e > relevantes tenha seu merecido crédito sem que para isso faça uso de suas > relações pessoais e poderes sociais.> Além dos fatores internos do campo, há sempre a interferência de fatores > externos e cada pressão do mundo exterior será de maior ou menor > importância de acordo não só com a capacidade de refração ("reprodução sob > forma específica das pressões e demandas externas") de determinado campo, > mas também com a importância dada á cada fato em determinada área pela > sociedade em geral.> Tratando da especificidade do campo científico, Bourdieu afirma que > "quanto mais os campos científicos são autônomos, mais eles escapam às > leis sociais externas"> Vê-se que a autonomia é almejada por todo campo científico, e seus > agentes mais idôneos esforçam-se para isso, através de instrumentos ditos confiáveis > (mas nem sempre verificáveis) de objetivação e reconhecimento de pesquisas > e reais avanços em cada área específica.> A realidade mostra que na construção de uma "ciência pura", o > reconhecimento e a importância dada à cada agente do campo é baseada > também em relações sociais e interesses próprios, o que o autor chama de > "poder específico", ou simplesmente "prestígio", e dentro do campo > científico, suas características, estrutura, objetos de estudo e > mobilidade hierárquica e social são definidos pelo "capital científico", > ou seja, o reconhecimento ou crédito dado ao pesquisador/instituição por > seu colegas, o que nem sempre é conseguido de maneira neutra.> Outra área importante e digna de concentração mais profunda é a > divulgação científica, que embora tenha evoluído em sua autonomia, ainda > sofre influências de diversos grupos externos, causando sempre questões > éticas, pois os estudiosos precisam de recursos econômicos para > desenvolver suas pesquisas, e os financiadores (sejam de ordem pública ou privada) têm seus interesses e seus meios para fazer com que sejam satisfeitos.

Carta aberta da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC)

“Iniciativas para a criação de novos centros de pesquisa são muito bem-vindas, entretanto, é preciso esclarecer que a neurociência de ponta não está sendo criada agora no Brasil”.

Leia abaixo a íntegra da carta, assinada por Carlos Alexandre Netto (UFRGS), Carlos Tomaz (UnB), Dora Fix Ventura (USP), Elaine Del Bel (USP-RP), Jackson Bittencourt (USP), Janete Aparecida Anselmo Franci (USP-RP), José Cipolla Netto (USP), Leny A. Cavalcante (UFRJ), Luiz Carlos Silveira (UFPa), Luiz Eugenio Mello (Unifesp), Marco Prado (UFMG), Newton Canteras (USP), Rafael Linden (UFRJ), Rubem Guedes (UFPE) e Stevens Rehen (UFRJ):

Neurociência no Brasil – história de construção coletiva

Tendo em vista o teor das declarações dos cientistas Miguel Nicolelis, da Universidade Duke e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), associado à UFRN, e Roberto Lent, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, veiculadas pela mídia eletrônica e face as inúmeras manifestações recebidas, a Diretoria e o Conselho da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) vem expressar o que segue:

1) a Neurociência é uma das áreas de conhecimento na qual o país apresenta alto desenvolvimento, o que pode ser aferido tanto pelo número de grupos de pesquisa, de Mestres e Doutores formados e de artigos científicos em periódicos internacionais indexados, quanto por estudos cienciométricos recentemente realizados. Construção coletiva da qual fazemos parte, é herança que recebemos de nossos formadores e instituições; nossa responsabilidade é de tentar deixar patrimônio maior/mais sólido para os que nos irão suceder;

2) iniciativas para a criação de novos centros de pesquisa são muito bem-vindas, entretanto, é preciso esclarecer que a neurociência de ponta não está sendo criada agora no Brasil. A neurociência brasileira é madura e autônoma e seu futuro desenvolvimento depende do respeito de todos pelo trabalho de todos. Não há hierarquias ou propriedades de determinados grupos ou campos; há sim uma história construída com esforço e muito trabalho que felizmente começou antes de nós, e que deve sobreviver às nossas opções individuais e coletivas;

3) a transparência e a igualdade de oportunidades na distribuição dos recursos públicos para a pesquisa científica são valores perseguidos e defendidos por cada uma e pelo conjunto das sociedades científicas nacionais, por razões óbvias;

4) o crescimento da comunidade científica, pela formação de novos Doutores e conseqüente criação de novos grupos e centros de pesquisa, propicia uma saudável competição por financiamento e o conseqüente aumento do volume dos recursos (apesar de não ideal) observado nos últimos anos;

5) seguindo modelo internacionalmente empregado, é a atuação de pares, em postos de decisão política ou como consultores e membros de comitês, que define o volume de recursos a serem disponibilizados e sua distribuição baseada em critérios de mérito e de produtividade acadêmica dos cientistas;

6) diferentes opiniões e posições, temperadas com os valores e traços pessoais, são fato de ocorrência natural e previsível num meio tão crítico quanto criativo como o científico, e sua apresentação é garantida pelo princípio constitucional de liberdade de expressão. Contudo, entendemos que o envolvimento da grande mídia na troca de opiniões, como recentemente ocorrido, pode ensejar visões parciais e enviesadas sobre a ciência e os cientistas, com resultados duvidosos;

7) a SBNeC considera injustificados alguns termos empregados pelo Professor Nicolelis: a) ao referir-se ao Professor Lent, destinatário da resposta “aos que não fazem e não deixam fazer”, personificou dura e exacerbada crítica a colega cientista internacionalmente reconhecido, liderança inconteste na UFRJ e um dos principais divulgadores de ciência em nosso país. Criador da revista Ciência Hoje e pioneiro em projetos de educação científica para crianças, sua atuação vem contribuindo para que muitos optassem inclusive pela carreira científica; o Professor Lent é justamente um dos que mais faz e deixa fazer ciência em nosso país; b) "tudo começa em Natal" pode ser uma expressão de bom efeito midiático, contudo ilusória e que fere a história da ciência nacional;

Este episódio terá ressonância, certamente, nos foros próprios de discussão. Nosso desejo é o de que prevaleça a maturidade da comunidade para que se possa incorporar os ensinamentos advindos na construção de uma vida científica de excelência em nosso país.”

Fonte: JC e-mail 3233, de 29 de Março de 2007.

28 março 2007

Resenha acerca do texto “Tradições da Pesquisa”

Gilson Araújo – 246794

Divulgação através da comunicação eletrônica, de certa forma, revoluciona as maneiras de se transmitir as pesquisas científicas das mídias.
As diferenças entre as disciplinas parecem ser inevitáveis. Precisamos estar abertos a estas diferenças e sabermos manusear os meios de comunicação no tempo certo e no contexto histórico e social que as pesquisas científicas estão acontecendo “...A filosofia natural, acreditava-se, proporcionava conhecimentos especialmente importantes sobre o mundo à nossa volta...”.
Campos de pesquisa podem ser formados através de fusões, como por exemplo, a bioquímica, a biotecnologia etc.
“ ... Pode-se imaginar cada matéria , como a biologia e a química, como um trabalho de mineração que faz escavações profundas dentro de um campo específico de interesse...”. Uma pesquisa a ser realizada sobre determinado assunto, muito provavelmente, não deixará lacunas a serem preenchidas, pois o resultado da fusão de duas áreas será o preenchimento e o desdobramento por completo da pesquisa.
Estrutura conceitual apresenta-se de forma padronizada, e o que diferem são as maneiras de abordagem a esta estrutura e suas características. A comunicação entre matérias diferentes também sofrem influências estruturais.
Teoria e prática, certamente caminham juntas para o “ ... progresso das pesquisas científicas”. A partir deste momento imprescindível existir a relação Estrutura conceitual e Comunicação.
A avaliação das pesquisas científicas surgirão inevitavelmente. O cientista aplica-se inteiramente aos estudos científicos. Interação Social é a palavra certa para este comportamento natural da comunidade científica junto à sociedade.
De fato, o desprendimento requer do pesquisador científico uma demanda de esforço e comprometimento muito grande , ao de não deixar influenciar-se por benefícios e remunerações advindas de publicações de periódicos.
Poderíamos fazer uma associação entre as teorias de Robert Merton e Thomas Kuhn. O primeiro cita normas básicas, o universalismo, o sentido de comunidade, o desprendimento e o ceticismo organizado. O segundo, demonstra “... que a pesquisa científica pode ser dividida em períodos de desenvolvimento relativamente tranquilo, que denominou ciência normal, intercalados com com períodos de alteração importante, denominados revoluções...”. O ponto para debate que podemos destacar é o seguinte, desprendimento tavez seja contrário à idéia de “revolução conceitual”, pois esta necessita de esforços concentrados para ser realizada, o que contraria a norma do desprendimento, de Merton, que diz “ ...os cientistas não devem envolver-se emocionalmente com a aceitação ou rejeição de determinadas idéias.”.
As notícias acerca de pesquisas variam de acordo com o contexto histórico e social pelo qual passamos. Os livros são mais importantes em pesquisas na área de humanidades que em ciências. Talvez os fatores que contribuam para esta disparidade seja “o dinheiro e a velocidade de comunicação”. Velocidade na divulgação das pesquisas e o retorno são as vantagens que a ciência tem o advento da Comunicação Eletrônica. Por fim, a realidade que nós estamos vivendo nos proporciona um gama de informações muito variada, o que, certamente, requer uma seleção apurada do que buscamos para ter como objeto de pesquisa.

Resenha acerca do texto “Os usos sociais da ciência”(Pierre Boudieu)

Resenha acerca do texto “Os usos sociais da ciência”(Pierre Boudieu)


Levando-se em consideração a reflexão de Bourdieu que diz, “é possível fazer uma ciência da ciência, uma ciência social da produção da ciência, capaz de descrever e de orientar os usos sociais da ciência?”, podemos destacar alguns pontos importantes para debates aplicados à Comunidade Científica e, principalmente, no que diz respeito à expressão “Campo Científico”.
O autor em questão levantou reflexões acerca de suas vivências no Campo Científico. A partir destes conhecimentos temos apoio teórico para fundamentar nossas pesquisas. As teorias são propostas e debatidas, pois são verdades provisórias. Uma teoria derruba uma outra teoria.
“Tantos outros cientistas vivenciaram as mesmas coisas que Pierre Bourdieu, por que não pensaram nestas teorias antes”?.
Fundamentos científicos auxiliam para chegar a conclusões e a soluções para a sociedade. O cientista social analisa um conjunto de situações e expõe suas críticas. Todos aqueles que participam da Comunidade Científica participam do processo de mudança de nossa sociedade contemporânea, e não apenas o cientista social.
Cientistas avaliam cientistas. Quantitativo e qualitativo. O que avaliar? Existe uma imparcialidade dos cientistas para avaliar artigos científicos. Os méritos e créditos científicos são primordiais no momento da avaliação. Qualidade e quantidade podem ser simultaneamente trabalhados em se tratando de oportunidades na Comunidade Científica.
A sociedade e a ciência caminham juntas, uma em função da outra.
No “Campo Científico existem lutas”. Podemos utilizar estratégias para o domínio de determinado campo. Quais hierarquias a serem utilizadas?
Capital Científico. A Comunidade Científica escolhe qual campo de atuação vai ser trabalhado as espécies de poder, “temporal ou político, que tem ligação com as instituições científicas, no tocante à direção e ocupação de cargos importantes nas mesmas; e ao poder sobre os meios de produção(contratos, créditos, postos etc.)”.
Produção do Conhecimento Científico em prol dos menos favorecidos, que vivem abaixo da linha da miséria. Certamente que isto é uma questão política, mas também, político-sócio-econômica, logo, uma parcela de responsabilidade aplica-se, irrefutavelmente, à chamada Comunidade Científica.

Bourdieu: Os usos da ciência

Leitura do texto:
BOURDIEU, P. Os usos da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004. p.17-42.
Fazer a resenha e postar aqui no comentários.
Prazo: 11/04/2007.

BOURDIEU, P. Os usos da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004. p.17-42.

Andreia Beatriz Pereira. RA 247243


O texto de Bourdieu, produzido no seio de um instituto de pesquisa francês, tem como principal atração o “desmascaramento” que tenta produzir, mostrando aos cientistas do mesmo instituto, como são as regras de vivencia dentro da sociedade cientifica como um todo.
Segundo ele dentro do contexto social onde estamos inseridos, estamos atuando em diferentes micro-sociedades, cada uma com seu modo de funcionamento próprio, que depende principalmente da forma como seus componentes se relacionam. Assim o campo cientifico se mostra como uma pequena sociedade, que engloba o funcionamento de pesquisas, de grupos de pesquisas, de laboratórios, de fomento a estas pesquisas, e inclusive da forma como estas serão publicadas.
O importante do trabalho de Bourdieu é demonstrar para um publico que vive nesta micro-sociedade, como ela funciona. Nos conceitos de autor esta micro-sociedade é denominada campo.
Todo campo possui jogos de poder, pois assim são constituídas as suas relações, logo, a determinação da posição que um cientista atinge no campo depende de sua posição e das relações que mantém com os outros indivíduos do mesmo campo. Um fato do trabalho do autor que demonstra muito bem isso se dá na relação entre os cientistas que exercem, dentro da academia, um papel administrativo e aqueles que se destacam por sua pesquisa. As relações entre eles podem determinar, por exemplo, quem receberá mais apoio financeiro e quem receberá menos de sua instituição.
São estas relações também que podem vir a determinar quem publicará em determinado periódico, quem fará parte do corpo avaliador de determinado trabalho, etc. Entender estes jogos, estas relações possibilita compreender melhor as tomadas de decisões em diversos níveis do campo científico, possibilitando uma tomada de consciência não somente dos pontos de onde falam os outros sujeitos que constituem o campo, mas também do ponto de onde o próprio tomador de consciência está inserido e de onde ele fala, com quais propriedades e quais interesses ele fala. Ajuda a tomada de posicionamento mais consciente dos pesquisadores.
Mais importante ainda que dar crédito ao trabalho do autor é notar que não é um trabalho dirigido a qualquer publico, é um trabalho que foi dito, verbalizado, num contexto cientifico especifico, ou seja, dentro de um campo cientifico especifico. Só há o lamento de não presenciar esta palestra e não poder ver sua repercursão instantânea dentro do campo...

27 março 2007

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: Por uma sociologia clinica do campo cientifico. São Paulo:Unesp, 2004.

RESENHA
O tema principal do texto de Pierre Bourdieu são as disputas do campo científico. Bourdieu propõe a reflexão da comunidade científica como um todo sobre suas práticas, fornecendo princípios importantes para entendermos o processo de construções das “verdades” científicas.
Dentre os assuntos discutidos a noção de campo tem-se mostrado bastante fecunda, por relacionar-se às lutas que determinados grupos desenvolvem pela manutenção de vantagens e posições, ou seja, pela preservação de privilégios materiais e simbólicos. Nos diferentes campos – arte, religião, ciência, educação, esporte – evidenciam-se embates entre diferentes agentes, portadores de autoridade e legitimidade diferenciadas.
Para Bourdieu o campo é o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a ciência. É um mundo social como os outros, mas que obedece a leis sociais mais ou menos específicas, distintas das leis sociais a que está submetido o macrocosmo. Todo campo é um campo de forças e um campo de lutas para conservar ou transformar o campo de forças.
Referindo-se particularmente ao campo científico, Bourdieu argumenta que a estrutura das relações objetivas entre os diferentes agentes (que são as fontes do campo) comanda os pontos de vista, as intervenções científicas, os locais de publicação, os objetos a serem investigados. É essa estrutura que vai dizer o que pode e o que não pode ser feito. É, em síntese, a posição que os agentes ocupam nessa estrutura que define ou orienta seus posicionamentos.
Como se determina essa estrutura? Segundo Bourdieu, pela distribuição do capital científico, em um certo momento, entre os diferentes agentes engajados no campo. Os maiores detentores de capital científico são certamente os pesquisadores dominantes. São eles que, em geral, indicam o conjunto de objetos importantes, ou seja, o conjunto de questões que devem importar para os pesquisadores e sobre as quais eles precisam se concentrar de modo a serem devidamente recompensados.
Para Bourdieu existem duas espécies de capital científico: o poder institucionalizado, ligado às posições hierárquicas nas instituições científicas e ao controle dos meios de produção e reprodução, e o poder específico do prestígio pessoal, que, segundo o autor, repousa sobre o reconhecimento dos pares.
O texto de Bourdieu tem um estilo literário complexo, onde ele se utiliza de um vocabulário que repulsa os novatos, no entanto, alguns dos conceitos que desenvolveu fazem parte hoje do vocabulário corrente de sociólogos ou dos que trabalham sobre o social.

Gracielli B. Pépe
RA247022

Ciência “é notícia em jornais populares”

A ciência ocupa espaço privilegiado em jornais brasileiros populares, juntamente com futebol, crime e fofoca, mostra estudo.

A jornalista especializada em ciência Luisa Massarani escreve para SciDev.Net:

A ciência ocupa um espaço privilegiado em jornais brasileiros destinados a classes sociais mais baixas (C, D e E), juntamente com notícias sobre futebol, violência e fofoca, de acordo com os resultados de um estudo divulgados esta semana (26 de março).
Os jornais analisados foram Extra – um dos jornais brasileiro de maior circulação dominical, com tiragem de 428 mil – e O Dia, com 238 mil cópias no domingo.
A pesquisa foi realizada pelo jornalista científico Wagner Barbosa de Oliveira, em sua dissertação de mestrado no Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal de Rio de Janeiro.
Ele que observou que 73,8 % dos dias investigados em um período de seis meses entre 2005 e 2006 veicularam notícias de ciência.
Além disso, 86% das notícias sobre temas de ciência ocuparam a parte superior ou central da página, considerados nobres no espaço jornalístico.
Os temas de saúde foram os preferidos para os jornalistas, com 54,2% do total dos textos sobre esta área de conhecimento. Apenas três em cada 10 textos trataram de temas relacionados a pesquisas realizadas no país.
Um dado interessante observado por Oliveira foi a presença alta de fontes consideradas confiáveis.
"Um terço dos textos mencionaram explicitamente universidades e centros de pesquisa como fonte; as revistas científicas peer-review, inclusive em inglês, são mencionadas por 13,9% dos textos", afirmou Oliveira a SciDev.Net.
Entre as críticas que Oliveira faz à cobertura de ciência nestes diários estão a carga importante de sensacionalismo e o fato de a ciência é, em muitos dos textos, apresentada como se fosse uma 'verdade estabelecida' – ainda que jornais de elite também tragam estas características.
O estudo mostrou que os cientistas não escrevem para estes jornais. "Isto é uma expressão da pouca importância – do meu ponto de vista equivocada – que os cientistas dão a jornais populares, sem se dar conta de que as classes C, D e E representam 80% da população do país", afirmou.
Segundo Oliveira, que trabalha na Fundação Oswaldo Cruz, uma atuação maior dos cientistas nestes setores da imprensa poderia permitir difundir mais na população a imagem de que a atividade científica é um elemento importante para o desenvolvimento do país.
De acordo com Oliveira, a principal motivação do estudo foi o fato de que os meios de comunicação de massa são uma das fontes de informação em ciência e tecnologia mais importantes para o público geral nos países em desenvolvimento, pois uma parcela importante da população não freqüenta a escola ou completa apenas uma parte do ensino formal.

Para receber, gratuitamente, o boletim com notícias, textos de opinião e especiais sobre a ciência da América Latina e de outros países em desenvolvimento, cadastre-se em http://www.scidev.net/registro.

Fonte: JC e-mail 3231, de 27 de Março de 2007.

Resenha do texto de Pierre Bordieau

Kátia Ellen Chemalle

BOURDIEU, P. Os usos da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004. p.17-42.

Pierre Bourdieau começa suas reflexões acerca de campo científico. A noção de campo para Bordieau parte de uma produção cultural (de qualquer área do conhecimento): “[...] o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a ciência” (p.20). Depois Bordieau insere o campo científico dizendo que ele é um mundo social, ou seja, é composto por seus especialistas mas independe das pressões da sociedade, e nesta concepção tem também a sua autonomia.
O campo científico também é um campo de luta e de força onde é possível se inserir agentes que farão parte de uma estrutura, estrutura essa, por exemplo, como uma publicação científica.
No entanto, o autor alerta para a questão do lugar que esse agente ocupa que é determinado pelo seu capital científico, ou seja, quanto de conhecimento científico e de reconhecimento na comunidade científica o cientista tem. Essa definição de capital científico até então era desconhecida por mim, mas é uma definição muito importante e valiosa: “[...] o capital científico é uma espécie de capital simbólico [...] que se consiste no reconhecimento atribuído pelo conjunto de pares-concorrentes no interior do campo científico” (p.26).
Bordieau ressalta ainda em relação ao campo que ele não se orienta ao acaso, tudo nele pode se modificar de acordo com os estudos, tendências de cada campo científico e continua discorrendo sobre os agentes com suas características importantes: não são conduzidos pelas forças do campo; tem habitus (particularidade de serem duráveis); arriscam-se a estar sempre defasados, mal colocados; e têm posições que dependem do seu capital científico.
Essas características que fazem da comunidade científica, acredito eu, um grande grupo com contribuições importantes para a ciência.
Bordieau cita que o campo científico pode ser relacionado a um jogo científico que é pra ser jogado, que tem metas e objetivos, bem como necessita de investimento. E mais que necessita de um interesse científico (illusio) e que tenha relação com o cotidiano.
O autor vai discorrer sobre várias reflexões para o campo científico, mas valemo-nos da seguinte conclusão: o campo científico é construído por seus agentes que têm um certo capital científico que permite que os mesmos tenham uma posição no campo científico e possam desempenhar suas atividades e interesses.
Por fim, Bordieau especifica os tipos de capital científico:
· Poder temporal: ocupação de posições na ciência e sobre os meios de produção;
· Poder específico: no que tange mais o “prestígio pessoal”, o reconhecimento.

O autor deixa a reflexão de que a ciência pode progredir com autonomia, o que é considerável, para que não haja descrédito com os cientistas no próprio campo científico.
Marcelo Faria – RA: 247014
Resenha: Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico
Pierre Bourdieu


De uma forma extremamente clara e objetiva, campo para Bourdieu significa um espaço social de dominação e de conflitos e, segundo ele, os indivíduos agem de acordo com sua posição social neste espaço e as relações sociais estão distribuídas na forma de capital, seja cultural ou simbólico.
De acordo com o autor campo científico pode ser definido com práticas orientadas para a aquisição de autoridade científica tais como: reconhecimento, prestígio, celebridade, etc. Para ele, garantir a sobrevivência dos participantes de cada campo, os mesmos devem ter capacidades de desempenhar funções e a prática das lutas para atingirem suas metas.
Bourdieu trabalha as definições de campo, capital e habitus para explicar as interações na sociedade. Para ele, na estrutura do campo – hierarquia de posições, tradições, história e instituições - os integrantes adquirem um corpo de disposições para agir de acordo com as possibilidades existentes dentro da estrutura objetiva que ele chama de habitus.
Transportando a definição de campo científico para a Ciência da Informação, podemos visualizá-la como um espaço social construído por agentes em constante confronto para manter ou transformar as relações sociais. Portanto, os sujeitos considerados os agentes que constroem o campo da Ciência da Informação são aqueles que fazem pesquisas, produzem conhecimento e disseminam-no sob a forma de artigos, trabalhos, palestras, aulas, etc. Os participantes dessa comunidade científica ocupam-se com temas considerados relevantes para o progresso do campo em reuniões científicas e congressos profissionais.

26 março 2007

Na briga pela ciência aberta

Por Fernando Cunha

Agência FAPESP - A biblioteca eletrônica SciELO (sigla em inglês para Scientific Eletronic Library Online) comemora dez anos em abril com a inauguração de um novo portal e um índice próximo de 7 milhões de acessos por mês.
Um número impressionante, de acordo com Rogério Meneghini, coordenador científico da primeira base de artigos científicos produzidos no país e publicados em revistas científicas brasileiras.
Criada para aumentar a visibilidade nacional e internacional da ciência brasileira, a biblioteca inclui hoje periódicos de outros nove países latino-americanos, além de Portugal e Espanha.
Fruto de uma parceria da FAPESP com a Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), instituição vinculada à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e à Organização Mundial da Saúde, o projeto SciELO também conta com o apoio e a parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 2002.
Para a Agência FAPESP, Meneghini contou como foi criar a SciELO e defendeu a “ciência aberta”.

Agência FAPESP - Por que criar uma base de informação científica brasileira?
Rogério Meneghini - Quando consegui que a FAPESP oferecesse à comunidade científica acesso ao banco de dados do ISI [Institute for Scientific Information], a mais importante base de artigos científicos internacional, comecei a pesquisar os artigos que resultaram de projetos apoiados pela Fundação para entender como era o fluxo dessa informação científica no país. Eu estava interessado em criar uma base de dados bibliográficos e cienciométricos, pois acreditava que isso significaria dar um passo além do que era possível com a base ISI. Não havia muito conhecimento sobre o impacto da produção brasileira.

Agência FAPESP - Como a idéia se concretizou?
Meneghini - Falei sobre meu plano de criar a base com Abel Packer, diretor da Bireme, e Lewis Greene, pesquisador da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto e editor chefe de uma das melhores revistas científicas do Brasil, o Brazilian Journal of Medical and Biological Research. Abel acreditava que a base que eu propunha também deveria trazer conteúdos integrais dos periódicos, ao mesmo tempo em que eles eram publicados on-line. Ele me convenceu que as duas coisas, a base de dados e os conteúdos integrais, se somavam. Depois de muitas discussões, preparamos um modelo e um projeto, que foi aprovado pela FAPESP. Começamos com uma escala piloto de oito revistas brasileiras bem visíveis, de várias áreas, e contávamos com uma participação ativa de seus editores.

Agência FAPESP - Como a SciELO evoluiu nestes dez anos?
Meneghini - A biblioteca cresceu muito e o processo de publicação tornou-se cada vez mais trabalhoso e caro. Devem existir perto de quatro mil revistas científicas no país e a indexação na SciELO virou uma meta para todas elas. O assédio de editores é muito grande. Nosso padrão de avaliação de periódicos é muito restringente, mas também muito transparente. Até porque um dos nossos objetivos é melhorar o nível desses periódicos, o que já está acontecendo.

Agência FAPESP - A infra-estrutura também deverá crescer?
Meneghini - Em breve teremos 200 periódicos e já atingimos a marca de quase 7 milhões de acessos também devido ao sucesso de sites de busca na internet como o Google. Em breve faremos o lançamento de uma nova plataforma, com novo projeto gráfico, melhor navegabilidade, dados estatísticos que podem ser obtidos gratuitamente e com facilidade e a possibilidade de submissão on-line de artigos a todas as revistas indexadas na base.

Agência FAPESP - Por que a SciELO passou a publicar revistas de outros países?
Meneghini - Os contatos da Bireme, instituição que difunde informação sobre saúde para a América Latina e Caribe, estimularam muito a entrada de outros países. No começo, pensamos em publicar apenas os periódicos feitos no Brasil. Mas num certo momento Abel Packer e eu percebemos que poderíamos ampliar. Começamos a fazer palestras em outros países para apresentar o projeto. O primeiro a entrar foi o Chile, que hoje tem 61 revistas na base. Aí vieram outros. Decidimos então não tomar conta dos sites de cada país para não tirar o estímulo que eles tinham. Todos usam a mesma metodologia e a mesma plataforma, mas têm um site próprio. Fizemos também o www.scielo.org, que reúne todas as revistas de todos os países participantes.

Agência FAPESP - Quem financia a manutenção em cada país?
Meneghini - No Brasil, embora tenha alcance nacional e seja reconhecido como um bom projeto, 80% dos custos da SciELO ainda são pagos pela FAPESP. O CNPq entra com 15% e o restante vem principalmente da Opas. Mas precisamos colocar o projeto no contexto do financiamento nacional, pois um dos problemas que temos a curto prazo é a obtenção de recursos para manter e ampliar a base. Todos os países que fazem parte da SciELO buscam seus próprios recursos e têm problemas para consegui-los.

Agência FAPESP - A publicação em português é um entrave para a divulgação da ciência brasileira no mundo?
Meneghini - A língua é um problema. Escrevi, com Abel Packer, um artigo sobre esse assunto para a edição de fevereiro da revista EMBO Report [da European Molecular Biology Organization], do grupo Nature. Neste artigo, discutimos bastante a questão do inglês na ciência e da ciência na língua de cada país. Precisamos lidar com uma verdade: o inglês é a língua científica no mundo atual. Por esse motivo temos estimulado a publicação de artigos científicos em inglês.

Agência FAPESP - O acesso à produção de ciência na América Latina depende disso?
Meneghini - Eu sonho muito alto, acredito que é possível existir uma cultura bilíngüe em termos de ciência no Brasil. Eu também discuto essa possibilidade no artigo que citei. Mas a maior parte dos pesquisadores em atividade no Brasil ainda procura publicar em inglês. Colocar para eles a incumbência de fazer o mesmo artigo em português, o que seria bom para todos os brasileiros, é fazer uma exigência draconiana. Eu continuo pensando em estimular isso, mas, por enquanto, é só um projeto.

Agência FAPESP - Quais são os planos para o futuro da SciELO?
Meneghini - Continuar na briga pela ciência aberta, de disponibilização gratuita de artigos científicos. Há uma origem ética nisso, bem recente, do início deste século. A SciELO nasceu como ciência aberta, ninguém paga nada para acessar os artigos que ela publica. E não poderia ser de outra forma porque são instituições públicas que dão suporte ao projeto. No nível internacional, as revistas são muito mais comerciais, seus publishers cobram, e cobram bem. Há uma grande discussão sobre o sentido de se fazer isso. Pela origem da SciELO e por ela ser atualmente a segunda maior base do mundo de acesso aberto continuamos a discutir possibilidades para a ciência aberta. Essa é uma questão que considero muito importante.

Fonte: Agëncia Fapesp, 26/03/2007.

Cultura e natureza

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Qual a pertinência da Teoria da Evolução, de Charles Darwin (1809–1882), para as ciências sociais e econômicas? Esta é a questão que permeia o Ciclo Temático Evolução Darwiniana e Ciências Sociais, que começou na última quinta-feira (22/03) e prossegue ao longo do ano com seminários mensais.

Idealizado pelo economista José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), o evento foi realizado pelo Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) da FEA e pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).
De acordo com Veiga, a pertinência dos conceitos darwinianos para as ciências sociais é discutida há muito tempo, mas veio adquirindo uma dimensão cada vez mais controversa.
“Minha preocupação principal é a economia. A ciência econômica está passando por uma mudança paradigmática e está claro que ela será muito diferente ao longo deste século. Uma das principais mudanças é que cada vez mais ela leva em conta a teoria da evolução”, disse ele à Agência FAPESP.
Veiga afirmou que, enquanto alguns economistas consideram que a teoria evolucionista é importante para aspectos específicos da economia, como a evolução tecnológica, outros acreditam que sua influência vai muito mais longe, transformando toda a teoria econômica.
“Cada vez mais há cientistas pensando nessa perspectiva. A idéia é que o ciclo de seminários nos ajude a esclarecer mais sobre essa controvérsia. A princípio tendo a apreciar a contribuição da universalidade da teoria da evolução às ciências sociais. Mas poderemos avaliar a questão bem melhor após os debates”, disse.
Para o professor, uma grande contribuição que o ciclo poderá trazer é aprofundar o conhecimento interdisciplinar sobre a própria teoria de Darwin. “A teoria da evolução é amplamente comentada, mas, ao mesmo tempo, é profundamente desconhecida”, afirmou.
De acordo com Veiga, em 1964 o biólogo Ernest Mayr (1904-2005) alertou que a estrutura conceitual do darwinismo é um sistema filosófico. Mas foram necessárias três décadas para que se começasse a reconhecer nela uma teoria geral dos sistemas evolutivos como categoria específica dos sistemas adaptativos complexos.


Confluência científica

Durante o ciclo, as mesas sempre contarão com um pesquisador das ciências naturais e outro das sociais. No primeiro seminário da série, participaram o biólogo Ricardo Waizbort, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o sociólogo Carlos Alberto Dória, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em sua exposição, Waizbort procurou mostrar que o tema do seminário não trata apenas de uma "invasão" da biologia em domínios sociais e culturais.
Segundo ele, está em curso um processo bem mais amplo, de duas fortes tendências: a psicologia evolutiva, herdeira da controvertida sociobiologia, e o programa de pesquisa dos memes, uma investigação ainda incipiente que pretende tratar a informação cultural e as próprias tradições como complexos de idéias que se reproduzem via cérebros humanos.
Dória corroborou a idéia de que o darwinismo é mal conhecido, apesar de bem difundido. Segundo ele, pelo menos até a década de 1970 os cientistas sociais tinham uma leitura enviesada da obra de Darwin, influenciada pelo filósofo Herbert Spencer (1820-1903).
Para vencer o obstáculo que obscurece a teoria darwinista, Dória recomenda que os cientistas sociais assumam o debate em torno de questões-chave, como a ecologia, a criação da linguagem e da consciência e o tema dos instintos sociais.

Fonte: Agëncia Fapesp, 26/03/2007.

25 março 2007

Resenha: Os usos sociais da ciência - pg. 17 a 42.

Paulo Rogério Romagna - RA 247332.

Interessante a noção de campo aplicada à ciência, no conceito de “campo científico”, o qual, a exemplo de outros campos (como o econômico), abriga relações de força e dominação. O “capital científico” é determinante na definição dos rumos da ciência, já que os detentores de maior capital (pesquisadores ou pesquisas dominantes) é que vão definir, em determinado momento, “o conjunto de objetos importantes, isto é, o conjunto das questões que importam para os pesquisadores [...] determinando uma concentração de esforços de pesquisa”.
Segundo o autor, há duas espécies de capital científico, a saber: o temporal ou político e o prestígio pessoal (ou o capital científico “puro”). O primeiro compreende a ocupação de posições importantes em instituições científicas (cargos de direção, fazer parte de comissões e comitês de avaliação). O segundo advém do reconhecimento da competência de um cientista, o que resulta, conseqüentemente, num determinado nível de autoridade atribuída a este. Na opinião de Bourdieu, este último é a “forma mais específica e mais legítima do capital científico”. O detalhe em comum é que a acumulação de ambos os capitais é extremamente difícil. Ao discorrer sobre as diferenças na forma de transmissão desses capitais, Bourdieu menciona que o capital “puro” praticamente não pode ser transmitido, pois está indelevelmente associado à pessoa do pesquisador, aos seus dons. Já o institucionalizado é transmitido bem mais facilmente, seguindo as mesmas regras de transmissão de qualquer capital burocrático. Apesar dessa aparente polarização entre os dois tipos de capital, afirma-se que eles podem coexistir num laboratório, inclusive trazendo benefícios ao empreendimento em questão.
Conforme mencionado por Bourdieu, “quanto mais as pessoas ocupam uma posição favorecida na estrutura, mais elas tendem a conservar ao mesmo tempo a estrutura e sua posição”, o que pode resultar em desvios de conduta por parte do cientista, levantando o tema da ética na ciência.