26 março 2007

Cultura e natureza

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Qual a pertinência da Teoria da Evolução, de Charles Darwin (1809–1882), para as ciências sociais e econômicas? Esta é a questão que permeia o Ciclo Temático Evolução Darwiniana e Ciências Sociais, que começou na última quinta-feira (22/03) e prossegue ao longo do ano com seminários mensais.

Idealizado pelo economista José Eli da Veiga, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), o evento foi realizado pelo Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) da FEA e pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).
De acordo com Veiga, a pertinência dos conceitos darwinianos para as ciências sociais é discutida há muito tempo, mas veio adquirindo uma dimensão cada vez mais controversa.
“Minha preocupação principal é a economia. A ciência econômica está passando por uma mudança paradigmática e está claro que ela será muito diferente ao longo deste século. Uma das principais mudanças é que cada vez mais ela leva em conta a teoria da evolução”, disse ele à Agência FAPESP.
Veiga afirmou que, enquanto alguns economistas consideram que a teoria evolucionista é importante para aspectos específicos da economia, como a evolução tecnológica, outros acreditam que sua influência vai muito mais longe, transformando toda a teoria econômica.
“Cada vez mais há cientistas pensando nessa perspectiva. A idéia é que o ciclo de seminários nos ajude a esclarecer mais sobre essa controvérsia. A princípio tendo a apreciar a contribuição da universalidade da teoria da evolução às ciências sociais. Mas poderemos avaliar a questão bem melhor após os debates”, disse.
Para o professor, uma grande contribuição que o ciclo poderá trazer é aprofundar o conhecimento interdisciplinar sobre a própria teoria de Darwin. “A teoria da evolução é amplamente comentada, mas, ao mesmo tempo, é profundamente desconhecida”, afirmou.
De acordo com Veiga, em 1964 o biólogo Ernest Mayr (1904-2005) alertou que a estrutura conceitual do darwinismo é um sistema filosófico. Mas foram necessárias três décadas para que se começasse a reconhecer nela uma teoria geral dos sistemas evolutivos como categoria específica dos sistemas adaptativos complexos.


Confluência científica

Durante o ciclo, as mesas sempre contarão com um pesquisador das ciências naturais e outro das sociais. No primeiro seminário da série, participaram o biólogo Ricardo Waizbort, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o sociólogo Carlos Alberto Dória, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em sua exposição, Waizbort procurou mostrar que o tema do seminário não trata apenas de uma "invasão" da biologia em domínios sociais e culturais.
Segundo ele, está em curso um processo bem mais amplo, de duas fortes tendências: a psicologia evolutiva, herdeira da controvertida sociobiologia, e o programa de pesquisa dos memes, uma investigação ainda incipiente que pretende tratar a informação cultural e as próprias tradições como complexos de idéias que se reproduzem via cérebros humanos.
Dória corroborou a idéia de que o darwinismo é mal conhecido, apesar de bem difundido. Segundo ele, pelo menos até a década de 1970 os cientistas sociais tinham uma leitura enviesada da obra de Darwin, influenciada pelo filósofo Herbert Spencer (1820-1903).
Para vencer o obstáculo que obscurece a teoria darwinista, Dória recomenda que os cientistas sociais assumam o debate em torno de questões-chave, como a ecologia, a criação da linguagem e da consciência e o tema dos instintos sociais.

Fonte: Agëncia Fapesp, 26/03/2007.

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