Carta aberta da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC)
“Iniciativas para a criação de novos centros de pesquisa são muito bem-vindas, entretanto, é preciso esclarecer que a neurociência de ponta não está sendo criada agora no Brasil”.
Leia abaixo a íntegra da carta, assinada por Carlos Alexandre Netto (UFRGS), Carlos Tomaz (UnB), Dora Fix Ventura (USP), Elaine Del Bel (USP-RP), Jackson Bittencourt (USP), Janete Aparecida Anselmo Franci (USP-RP), José Cipolla Netto (USP), Leny A. Cavalcante (UFRJ), Luiz Carlos Silveira (UFPa), Luiz Eugenio Mello (Unifesp), Marco Prado (UFMG), Newton Canteras (USP), Rafael Linden (UFRJ), Rubem Guedes (UFPE) e Stevens Rehen (UFRJ):
Neurociência no Brasil – história de construção coletiva
Tendo em vista o teor das declarações dos cientistas Miguel Nicolelis, da Universidade Duke e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), associado à UFRN, e Roberto Lent, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, veiculadas pela mídia eletrônica e face as inúmeras manifestações recebidas, a Diretoria e o Conselho da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) vem expressar o que segue:
1) a Neurociência é uma das áreas de conhecimento na qual o país apresenta alto desenvolvimento, o que pode ser aferido tanto pelo número de grupos de pesquisa, de Mestres e Doutores formados e de artigos científicos em periódicos internacionais indexados, quanto por estudos cienciométricos recentemente realizados. Construção coletiva da qual fazemos parte, é herança que recebemos de nossos formadores e instituições; nossa responsabilidade é de tentar deixar patrimônio maior/mais sólido para os que nos irão suceder;
2) iniciativas para a criação de novos centros de pesquisa são muito bem-vindas, entretanto, é preciso esclarecer que a neurociência de ponta não está sendo criada agora no Brasil. A neurociência brasileira é madura e autônoma e seu futuro desenvolvimento depende do respeito de todos pelo trabalho de todos. Não há hierarquias ou propriedades de determinados grupos ou campos; há sim uma história construída com esforço e muito trabalho que felizmente começou antes de nós, e que deve sobreviver às nossas opções individuais e coletivas;
3) a transparência e a igualdade de oportunidades na distribuição dos recursos públicos para a pesquisa científica são valores perseguidos e defendidos por cada uma e pelo conjunto das sociedades científicas nacionais, por razões óbvias;
4) o crescimento da comunidade científica, pela formação de novos Doutores e conseqüente criação de novos grupos e centros de pesquisa, propicia uma saudável competição por financiamento e o conseqüente aumento do volume dos recursos (apesar de não ideal) observado nos últimos anos;
5) seguindo modelo internacionalmente empregado, é a atuação de pares, em postos de decisão política ou como consultores e membros de comitês, que define o volume de recursos a serem disponibilizados e sua distribuição baseada em critérios de mérito e de produtividade acadêmica dos cientistas;
6) diferentes opiniões e posições, temperadas com os valores e traços pessoais, são fato de ocorrência natural e previsível num meio tão crítico quanto criativo como o científico, e sua apresentação é garantida pelo princípio constitucional de liberdade de expressão. Contudo, entendemos que o envolvimento da grande mídia na troca de opiniões, como recentemente ocorrido, pode ensejar visões parciais e enviesadas sobre a ciência e os cientistas, com resultados duvidosos;
7) a SBNeC considera injustificados alguns termos empregados pelo Professor Nicolelis: a) ao referir-se ao Professor Lent, destinatário da resposta “aos que não fazem e não deixam fazer”, personificou dura e exacerbada crítica a colega cientista internacionalmente reconhecido, liderança inconteste na UFRJ e um dos principais divulgadores de ciência em nosso país. Criador da revista Ciência Hoje e pioneiro em projetos de educação científica para crianças, sua atuação vem contribuindo para que muitos optassem inclusive pela carreira científica; o Professor Lent é justamente um dos que mais faz e deixa fazer ciência em nosso país; b) "tudo começa em Natal" pode ser uma expressão de bom efeito midiático, contudo ilusória e que fere a história da ciência nacional;
Este episódio terá ressonância, certamente, nos foros próprios de discussão. Nosso desejo é o de que prevaleça a maturidade da comunidade para que se possa incorporar os ensinamentos advindos na construção de uma vida científica de excelência em nosso país.”
Fonte: JC e-mail 3233, de 29 de Março de 2007.
Leia abaixo a íntegra da carta, assinada por Carlos Alexandre Netto (UFRGS), Carlos Tomaz (UnB), Dora Fix Ventura (USP), Elaine Del Bel (USP-RP), Jackson Bittencourt (USP), Janete Aparecida Anselmo Franci (USP-RP), José Cipolla Netto (USP), Leny A. Cavalcante (UFRJ), Luiz Carlos Silveira (UFPa), Luiz Eugenio Mello (Unifesp), Marco Prado (UFMG), Newton Canteras (USP), Rafael Linden (UFRJ), Rubem Guedes (UFPE) e Stevens Rehen (UFRJ):
Neurociência no Brasil – história de construção coletiva
Tendo em vista o teor das declarações dos cientistas Miguel Nicolelis, da Universidade Duke e do Instituto Internacional de Neurociências de Natal (IINN), associado à UFRN, e Roberto Lent, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, veiculadas pela mídia eletrônica e face as inúmeras manifestações recebidas, a Diretoria e o Conselho da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) vem expressar o que segue:
1) a Neurociência é uma das áreas de conhecimento na qual o país apresenta alto desenvolvimento, o que pode ser aferido tanto pelo número de grupos de pesquisa, de Mestres e Doutores formados e de artigos científicos em periódicos internacionais indexados, quanto por estudos cienciométricos recentemente realizados. Construção coletiva da qual fazemos parte, é herança que recebemos de nossos formadores e instituições; nossa responsabilidade é de tentar deixar patrimônio maior/mais sólido para os que nos irão suceder;
2) iniciativas para a criação de novos centros de pesquisa são muito bem-vindas, entretanto, é preciso esclarecer que a neurociência de ponta não está sendo criada agora no Brasil. A neurociência brasileira é madura e autônoma e seu futuro desenvolvimento depende do respeito de todos pelo trabalho de todos. Não há hierarquias ou propriedades de determinados grupos ou campos; há sim uma história construída com esforço e muito trabalho que felizmente começou antes de nós, e que deve sobreviver às nossas opções individuais e coletivas;
3) a transparência e a igualdade de oportunidades na distribuição dos recursos públicos para a pesquisa científica são valores perseguidos e defendidos por cada uma e pelo conjunto das sociedades científicas nacionais, por razões óbvias;
4) o crescimento da comunidade científica, pela formação de novos Doutores e conseqüente criação de novos grupos e centros de pesquisa, propicia uma saudável competição por financiamento e o conseqüente aumento do volume dos recursos (apesar de não ideal) observado nos últimos anos;
5) seguindo modelo internacionalmente empregado, é a atuação de pares, em postos de decisão política ou como consultores e membros de comitês, que define o volume de recursos a serem disponibilizados e sua distribuição baseada em critérios de mérito e de produtividade acadêmica dos cientistas;
6) diferentes opiniões e posições, temperadas com os valores e traços pessoais, são fato de ocorrência natural e previsível num meio tão crítico quanto criativo como o científico, e sua apresentação é garantida pelo princípio constitucional de liberdade de expressão. Contudo, entendemos que o envolvimento da grande mídia na troca de opiniões, como recentemente ocorrido, pode ensejar visões parciais e enviesadas sobre a ciência e os cientistas, com resultados duvidosos;
7) a SBNeC considera injustificados alguns termos empregados pelo Professor Nicolelis: a) ao referir-se ao Professor Lent, destinatário da resposta “aos que não fazem e não deixam fazer”, personificou dura e exacerbada crítica a colega cientista internacionalmente reconhecido, liderança inconteste na UFRJ e um dos principais divulgadores de ciência em nosso país. Criador da revista Ciência Hoje e pioneiro em projetos de educação científica para crianças, sua atuação vem contribuindo para que muitos optassem inclusive pela carreira científica; o Professor Lent é justamente um dos que mais faz e deixa fazer ciência em nosso país; b) "tudo começa em Natal" pode ser uma expressão de bom efeito midiático, contudo ilusória e que fere a história da ciência nacional;
Este episódio terá ressonância, certamente, nos foros próprios de discussão. Nosso desejo é o de que prevaleça a maturidade da comunidade para que se possa incorporar os ensinamentos advindos na construção de uma vida científica de excelência em nosso país.”
Fonte: JC e-mail 3233, de 29 de Março de 2007.
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