Políticas Institucionais de C&T
A política institucional de C&T deve garantir, ainda, um ambiente favorável à inovação
Leia o texto de Marcelo Dutra da Silva, professor e coordenador do Laboratório de Tecnologia em Informação Ambiental e do Curso de Ecologia da Universidade Católica de Pelotas:
“A definição de uma política de C&T significa dar um novo sentido à forma de fazer ciência e a forma de transferir o conhecimento para a comunidade que deve se dar num processo sinérgico de desenvolvimento baseado na associação inteligente entre a cultura humanista moderna e a tecnologia.
De maneira geral, C&T está pouco incorporada no cotidiano das pessoas, que a vê, muitas vezes, como produto de invenções individualizadas ou de pesquisa sem retorno social, embora seu domínio seja responsável pela divisão internacional da riqueza.
As metas do desenvolvimento científico não mais se limitam à acumulação acadêmica de conhecimento ou à busca de soluções para problemas específicos; elas se caracterizam como capacidade de formar e usar o conhecimento como nova forma de capital para que cada ente institucional possa manter a sua autonomia e sua competitividade no equilíbrio entre seus pares.
Segundo considerações apontadas no Livro Verde – Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios para a sociedade brasileira, do Ministério de Ciência e Tecnologia, a transformação de conhecimento em riqueza se dá, preponderantemente, pela ação inovadora de empresas.
Entretanto, os investimentos do setor privado em Pesquisa & Desenvolvimento são claramente insuficientes – o Estado ainda é responsável por cerca de dois terços desses investimentos no país.
A experiência histórica dos países que se desenvolveram mostra, também, o papel fundamental das empresas nacionais na construção da riqueza desses países e na montagem de um sistema de inovação forte.
Aprender observando a trajetória de quem teve sucesso é uma melhor opção do que tentar seguir as prescrições contemporâneas dos bem sucedidos para aqueles que buscam trilhar os mesmos caminhos.
Tais considerações revelam que ainda é preciso percorrer um longo caminho e reduzir as distâncias entre a academia e o setor produtivo, numa troca permanente onde quem ganha é a comunidade.
A formação de um sistema institucional de C&T deve deixar de ser um esforço episódico e centralizador para se converter em uma necessidade contínua e crescente em que a produção, transferência e utilização do conhecimento formam o “fio-condutor” do desenvolvimento econômico e social.
E essas mudanças implicam em modificações substanciais da massa crítica pensante, com níveis cada vez mais elevados de interação e treinamento, um enorme desafio frente ao reducionismo científico que geralmente prevalece no campo universitário.
A forma de fazer tecnologia, de inovar na ciência e de transformar o conhecimento em produtos, serviços e informações úteis à comunidade não depende apenas do pesquisador ou daqueles que na extensão deveriam estar transferindo para a comunidade a produção do conhecimento, na verdade uma nova direção na ciência institucional, ou um novo formato resulta de uma política institucional forte e motivadora da cooperação e troca de experiências.
No entanto, para responder às demandas e necessidades sociais à medida em que ocorrem quanto para encorajar novas demandas, as instituições de ensino e pesquisa terão de se manter permanentemente ativas, atualizadas e diversificadas, tanto na formação de conhecimento quanto na formação de novos pesquisadores.
A política institucional de C&T deve garantir, ainda, um ambiente favorável à inovação.
Deve ampliar a capacidade de inovação e expandir a base científica e tecnológica do corpo docente. Deve buscar integrar todas as áreas de conhecimento da Universidade que apresentem relevante capacidade de inovação e desenvolvimento e deve transformar a C&T em um elemento estratégico da política de desenvolvimento institucional.
As Universidades Comunitárias têm experimentado nos últimos anos um novo momento em sua história acadêmica. A consolidada postura de Universidade assistencial e conservadora tem cedido espaço a um espírito moderno, dinâmico e inovador.
Uma revolução de conceitos iniciada com a abertura institucional, estímulo à pesquisa e qualificação do quadro docente, aumentando substancialmente o número de pesquisadores titulados. Momento precedido pelo desenvolvimento de um sistema de pesquisa e construção dos programas de pós-graduação.
Porém, todo o esforço e revolução observados na pesquisa não são visíveis na extensão, que parece ter ficado num estágio anterior.
Tanto a pesquisa quanto a extensão têm papel fundamental de capacitação e formação de recursos humanos técnico-científico.
E uma política institucional de C&T forte deve buscar a modernização de base. Deve buscar investir em novos laboratórios, estimular a pesquisa, a formação tecnológica, a produção de conhecimento e a transferência de novas tecnologias, de tal forma que se torne a Universidade partícipe social do esforço para a melhoria da qualidade de vida das comunidades e assim promover o desenvolvimento humano.
A construção de uma política institucional de C&T poderá se revelar na grande oportunidade de mobilizar todos os atores que estão hoje engajados em transformar a Ciência em um instrumento efetivo de mudanças econômicas e sociais, enfrentando desafios, resolvendo problemas e atendendo aos anseios da sociedade.
Um envolvimento que não se limita apenas aos pesquisadores da Universidade, mas a toda a comunidade. Instituir na Universidade um sistema de C&T significa permitir uma nova revolução, agora talvez com efeitos mais práticos repercutindo profundamente, também, na extensão e no seu relacionamento com a pesquisa.
Todos os anos são cadastrados na Universidade dezenas de propostas de pesquisa e de extensão. Porém, a maioria delas não foi construída e nem mesmo será desenvolvida em consideração aos problemas ou necessidades da região.
Geralmente predomina a vontade do pesquisador, sem maiores preocupações com os resultados ou repercussões do seu objeto de pesquisa na comunidade ou mesmo no ensino.
Da mesma forma os trabalhos de extensão não se associam a pesquisa, são isolados, alguns assistenciais e poucos transferem para a comunidade a produção diária de conhecimento.
Dar à Tecnologia um papel de destaque significa criar as condições para obter um maior apoio futuro por parte da comunidade acadêmica à ciência, à pesquisa e a todo o investimento necessário ao entendimento da fascinante realidade em que vivemos.
Dar atenção ao desenvolvimento de tecnologias é assumir um novo modelo, é ajustar o foco aos problemas que realmente devem ser estudados.
Buscar novas tecnologias é estimular um maior relacionamento entre os que pesquisam e deles com aqueles que devem transferir o conhecimento à comunidade.
Sistemas tecnológicos bem construídos devem estimular na Universidade a integralização das áreas do conhecimento. Devem permitir reconhecer com certa fidelidade as atividades de pesquisa com potencial inventivo. E devem orientar um maior relacionamento entre pesquisados e extensionistas.
A pesquisa voltada ao desenvolvimento deve atuar com o propósito de inovar, de buscar novas soluções aos problemas do cotidiano, soluções que devem chegar ao mercado consumidor sob novos formatos tecnológicos, transferidos à comunidade por um sistema de extensão completamente novo.
As Engenharias, a Informática e outras áreas técnicas concentram o conhecimento com maior potencial inventivo, entretanto a capacidade de aplicação e desenvolvimento se dá em muitas outras áreas como Medicina, Farmácia, Comunicação e Meio Ambiente.
Em todas essas áreas, todos os dias, dezenas de pesquisadores, extensionistas e alunos investem tempo, esforço e recursos financeiros em tentativas isoladas de pesquisa ou trabalhos de extensão.
Raros são os momentos de integração e mais raros ainda os momentos de integração voltados ao desenvolvimento regional.
E é pensando neste potencial acadêmico da Universidade, nas demandas e vocações regionais e na necessidade de integrar grupos de trabalho em torno de um objetivo comum que este documento traz uma proposta simplificada de uma política institucional de C&T propondo para este primeiro estágio a institucionalização de uma estrutura organizacional que permita que algumas pessoas possam interagir e reconhecer na Universidade os formatos, as possibilidades e as estruturas disponíveis para o desenvolvimento do capital tecnológico.
Fonte: JC e-mail 3196, de 01 de fevereiro de 2007.
Leia o texto de Marcelo Dutra da Silva, professor e coordenador do Laboratório de Tecnologia em Informação Ambiental e do Curso de Ecologia da Universidade Católica de Pelotas:
“A definição de uma política de C&T significa dar um novo sentido à forma de fazer ciência e a forma de transferir o conhecimento para a comunidade que deve se dar num processo sinérgico de desenvolvimento baseado na associação inteligente entre a cultura humanista moderna e a tecnologia.
De maneira geral, C&T está pouco incorporada no cotidiano das pessoas, que a vê, muitas vezes, como produto de invenções individualizadas ou de pesquisa sem retorno social, embora seu domínio seja responsável pela divisão internacional da riqueza.
As metas do desenvolvimento científico não mais se limitam à acumulação acadêmica de conhecimento ou à busca de soluções para problemas específicos; elas se caracterizam como capacidade de formar e usar o conhecimento como nova forma de capital para que cada ente institucional possa manter a sua autonomia e sua competitividade no equilíbrio entre seus pares.
Segundo considerações apontadas no Livro Verde – Ciência, Tecnologia e Inovação: desafios para a sociedade brasileira, do Ministério de Ciência e Tecnologia, a transformação de conhecimento em riqueza se dá, preponderantemente, pela ação inovadora de empresas.
Entretanto, os investimentos do setor privado em Pesquisa & Desenvolvimento são claramente insuficientes – o Estado ainda é responsável por cerca de dois terços desses investimentos no país.
A experiência histórica dos países que se desenvolveram mostra, também, o papel fundamental das empresas nacionais na construção da riqueza desses países e na montagem de um sistema de inovação forte.
Aprender observando a trajetória de quem teve sucesso é uma melhor opção do que tentar seguir as prescrições contemporâneas dos bem sucedidos para aqueles que buscam trilhar os mesmos caminhos.
Tais considerações revelam que ainda é preciso percorrer um longo caminho e reduzir as distâncias entre a academia e o setor produtivo, numa troca permanente onde quem ganha é a comunidade.
A formação de um sistema institucional de C&T deve deixar de ser um esforço episódico e centralizador para se converter em uma necessidade contínua e crescente em que a produção, transferência e utilização do conhecimento formam o “fio-condutor” do desenvolvimento econômico e social.
E essas mudanças implicam em modificações substanciais da massa crítica pensante, com níveis cada vez mais elevados de interação e treinamento, um enorme desafio frente ao reducionismo científico que geralmente prevalece no campo universitário.
A forma de fazer tecnologia, de inovar na ciência e de transformar o conhecimento em produtos, serviços e informações úteis à comunidade não depende apenas do pesquisador ou daqueles que na extensão deveriam estar transferindo para a comunidade a produção do conhecimento, na verdade uma nova direção na ciência institucional, ou um novo formato resulta de uma política institucional forte e motivadora da cooperação e troca de experiências.
No entanto, para responder às demandas e necessidades sociais à medida em que ocorrem quanto para encorajar novas demandas, as instituições de ensino e pesquisa terão de se manter permanentemente ativas, atualizadas e diversificadas, tanto na formação de conhecimento quanto na formação de novos pesquisadores.
A política institucional de C&T deve garantir, ainda, um ambiente favorável à inovação.
Deve ampliar a capacidade de inovação e expandir a base científica e tecnológica do corpo docente. Deve buscar integrar todas as áreas de conhecimento da Universidade que apresentem relevante capacidade de inovação e desenvolvimento e deve transformar a C&T em um elemento estratégico da política de desenvolvimento institucional.
As Universidades Comunitárias têm experimentado nos últimos anos um novo momento em sua história acadêmica. A consolidada postura de Universidade assistencial e conservadora tem cedido espaço a um espírito moderno, dinâmico e inovador.
Uma revolução de conceitos iniciada com a abertura institucional, estímulo à pesquisa e qualificação do quadro docente, aumentando substancialmente o número de pesquisadores titulados. Momento precedido pelo desenvolvimento de um sistema de pesquisa e construção dos programas de pós-graduação.
Porém, todo o esforço e revolução observados na pesquisa não são visíveis na extensão, que parece ter ficado num estágio anterior.
Tanto a pesquisa quanto a extensão têm papel fundamental de capacitação e formação de recursos humanos técnico-científico.
E uma política institucional de C&T forte deve buscar a modernização de base. Deve buscar investir em novos laboratórios, estimular a pesquisa, a formação tecnológica, a produção de conhecimento e a transferência de novas tecnologias, de tal forma que se torne a Universidade partícipe social do esforço para a melhoria da qualidade de vida das comunidades e assim promover o desenvolvimento humano.
A construção de uma política institucional de C&T poderá se revelar na grande oportunidade de mobilizar todos os atores que estão hoje engajados em transformar a Ciência em um instrumento efetivo de mudanças econômicas e sociais, enfrentando desafios, resolvendo problemas e atendendo aos anseios da sociedade.
Um envolvimento que não se limita apenas aos pesquisadores da Universidade, mas a toda a comunidade. Instituir na Universidade um sistema de C&T significa permitir uma nova revolução, agora talvez com efeitos mais práticos repercutindo profundamente, também, na extensão e no seu relacionamento com a pesquisa.
Todos os anos são cadastrados na Universidade dezenas de propostas de pesquisa e de extensão. Porém, a maioria delas não foi construída e nem mesmo será desenvolvida em consideração aos problemas ou necessidades da região.
Geralmente predomina a vontade do pesquisador, sem maiores preocupações com os resultados ou repercussões do seu objeto de pesquisa na comunidade ou mesmo no ensino.
Da mesma forma os trabalhos de extensão não se associam a pesquisa, são isolados, alguns assistenciais e poucos transferem para a comunidade a produção diária de conhecimento.
Dar à Tecnologia um papel de destaque significa criar as condições para obter um maior apoio futuro por parte da comunidade acadêmica à ciência, à pesquisa e a todo o investimento necessário ao entendimento da fascinante realidade em que vivemos.
Dar atenção ao desenvolvimento de tecnologias é assumir um novo modelo, é ajustar o foco aos problemas que realmente devem ser estudados.
Buscar novas tecnologias é estimular um maior relacionamento entre os que pesquisam e deles com aqueles que devem transferir o conhecimento à comunidade.
Sistemas tecnológicos bem construídos devem estimular na Universidade a integralização das áreas do conhecimento. Devem permitir reconhecer com certa fidelidade as atividades de pesquisa com potencial inventivo. E devem orientar um maior relacionamento entre pesquisados e extensionistas.
A pesquisa voltada ao desenvolvimento deve atuar com o propósito de inovar, de buscar novas soluções aos problemas do cotidiano, soluções que devem chegar ao mercado consumidor sob novos formatos tecnológicos, transferidos à comunidade por um sistema de extensão completamente novo.
As Engenharias, a Informática e outras áreas técnicas concentram o conhecimento com maior potencial inventivo, entretanto a capacidade de aplicação e desenvolvimento se dá em muitas outras áreas como Medicina, Farmácia, Comunicação e Meio Ambiente.
Em todas essas áreas, todos os dias, dezenas de pesquisadores, extensionistas e alunos investem tempo, esforço e recursos financeiros em tentativas isoladas de pesquisa ou trabalhos de extensão.
Raros são os momentos de integração e mais raros ainda os momentos de integração voltados ao desenvolvimento regional.
E é pensando neste potencial acadêmico da Universidade, nas demandas e vocações regionais e na necessidade de integrar grupos de trabalho em torno de um objetivo comum que este documento traz uma proposta simplificada de uma política institucional de C&T propondo para este primeiro estágio a institucionalização de uma estrutura organizacional que permita que algumas pessoas possam interagir e reconhecer na Universidade os formatos, as possibilidades e as estruturas disponíveis para o desenvolvimento do capital tecnológico.
Fonte: JC e-mail 3196, de 01 de fevereiro de 2007.