04 abril 2007

Bordieu, Peirre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo cientifico.

Este texto trata de uma conferência realizada por Bordieu no Instituto Nacional de Agronomia, onde ele retoma seu conceito de campo científico, onde os campos são como espaços estruturados cujas características dependem das posições neste espaço, tais campos são regidos por leis gerais. Através desta teoria ele passa a explicar as regras que regem a própria ciência.
Ele explica que dentro destes campos existem confrontos entre duas formas de capital científico, que são: o relacionado ao cargo, ou posição ocupada pelo pesquisador em uma instituição cientifica, e o capital chamado por ele de “puro” ou proveniente de trabalhos relevantes já produzidos pelo pesquisador, e que as “verdades” científicas são disputadas no interior de cada campo.
Entender estas relações possibilita compreender as tomadas de decisões em diversos níveis do campo científico, possibilitando uma tomada de consciência não somente dos pontos de onde falam os outros sujeitos que constituem o campo, mas também do ponto de onde o próprio tomador de consciência está inserido e de onde ele fala, com quais propriedades e quais interesses ele fala. Ajuda a tomada de posicionamento mais consciente dos pesquisadores.

03 abril 2007

Conhecimento científico e produção científica.

Resenha de Eliana Mantovani Malvestio


Um dia da caça, outro do caçador.
Esta afirmação se aproxima de uma lei natural do funcionamento do mundo. A natureza se encaixa nestes dizeres; o capitalismo, fruto do “enriquecimento”, também fez com que nos encaixássemos nela. Por que haveria o “mundo das ciências” fugir à esta lei?
Sim, somos todos predados e predamos naturalmente quando o poder nos é dado. Para cada ambiente há uma forma de poder: a força, a velocidade e resistência; o saldo bancário; ou mesmo o intelecto e posição alcançada – a produtividade do cientista – são algumas das forças que nos levam à luta; à enfrentarmos o desconforto e buscarmos a posição (que julgamos) necessária à conquista do reconhecimento (embora os animais sejam mais singelos nesta busca).
A ciência constitui-se de um universo próprio, mesmo inserida e valendo-se de algumas práticas comuns às do mundo capitalista. (O capitalismo entranhou-se na ciência?) Os cientistas também almejam posições de autoridade e existe, para tanto, uma mesma lógica de produtividade e aceitação do trabalho produzido: o reconhecimento da autoridade científica e competência na área à qual se insere. Há o desejo de se acumular o capital – que abrirá portas e facilitará o crescimento profissional e os relacionamentos para o pesquisador. A comunidade científica possui hábitos próprios, valores, crenças e práticas para o fim ao qual se destina: gerar capital para a “sobrevivência” no meio acadêmico.
Tudo o que importa neste ambiente circula em torno da produção científica: o que fazemos; o que pesquisamos; onde publicamos, ou esperamos publicar; a quem nos uniremos para continuarmos a desenvolver estudos. E isto é justificado pelo poder que adquire aqueles que mais se destacam: os altamente capazes, os reconhecidos e respeitados cientistas, que podem descrever o curso da produção no campo e podem ditar as novas regras, tocar a nova música a qual todos dançarão (embora na prática não seja assim tão simples); e enquanto houver este crédito científico, haverá a batuta para reger a orquestra.
Talvez uma adaptação ou mesmo adequação ao mundo capitalista a ciência tenha sofrido. Existe a necessidade de se produzir, mesmo a moeda sendo diferente. Existe uma escala hierárquica a se respeitar e os degraus do reconhecimento a serem galgados; as etapas pelas quais o estudo para nos tornarmos pesquisadores devemos transpor.
A competitividade crescente no meio científico, causa também da banalização dos diplomas, impõe padrões, cria normas, traz desgastes e nos induz à crueldade. Somos solitários neste processo de produção para reconhecimento. Muitos atos e sentimentos, nem sempre positivos, afloram na tentativa de se alcançar posto mais elevado, as “forças não-científicas”. Devemos salvar nossa pele para prosperarmos e é difícil de se abrir caminho nessa mata espinhenta. Obviamente aqueles que se encontram no topo da “cadeia alimentar” tentam manter a posição e este fardo, esta ocorrência, pesa sobre todos os que conseguem tal status, pois, como dizia o filósofo: “o homem nasce bom, a sociedade o corrompe”.
Devemos nos atentar não somente para nossa produtividade, em sua consistência e relevância para o meio, mas também para, devido às condições impostas pelo meio, não começarmos, entre nós mesmos, uma “revolução dos bichos” em que homens e porcos não se diferenciem.


Resenha do texto:
BOURDIEU, Pierre. Os usos da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004.
Fernanda Pereira Santiago

BOURDIEU, P. Os usos da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora Unesp, 2004. p.17-42.

Resenha

Em termos muito sofisticados e de difícil entendimento no inicio do texto para leigos no assunto BOURDIEU descreve sua teoria que até hoje não foi refutada pelo mundo cientifico. Esta teoria "hipótese" de BOURDIEU consiste em negar a existência da ciência fora de qualquer intervenção do mundo social.
Para explicar melhor sua teoria o autor elaborou a noção de campo que consiste em supor que, entre o "texto" e o "contexto" chamados por ele de "dois pólos" possa se fazer a existência de um universo intermediário chamado campo, ou seja, sendo este um universo na qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem o conhecimento. Sendo este universo um mundo social como os outros que obedece a leis sociais mais ou menos específicas.
Concordo com o autor que essa seja a melhor forma de entender que não existe ciência pura, totalmente livre de qualquer necessidade ou vaidade pessoal.
Do mesmo modo que o mundo social, o mundo cientifico é regido por patrocinadores e interesse dos meios divulgadores e distribuidores, atendendo grupos muito bem estabelecidos.
Podemos exemplificar este fato comparando com o meio econômico, onde chora menos quem pode mais.
Este capital cientifico pode muitas vezes sucumbir bons pesquisadores e seus projetos de pesquisa pela não possibilidade de bancar precisamente um pesquisador e todos as suas necessidades. Sendo os projetos científicos não determinados ao acaso.
Esse estado em que se encontra o mundo cientifico possibilitou o comodismo que quando mais os pesquisadores ocupam uma posição favorecida na sociedade, mais eles tendem a conservar a sua posição, mesmo muitas vezes não produzindo para tanto mérito recebido.
A vida acadêmica neste mundo globalizado e competitivo deve ser pautar fundamentalmente na atividade de pesquisa, pois atualmente há uma exigência cada vez maior, em todos os setores pela produção e utilização adequada do conhecimento. Produzir utilizar com rapidez e eficiência o conhecimento é fator diferencial entre pesquisadores, instituições e até entre nações.