Arte e Ciência
Rhonda Roland Shearer, diretora do Laboratório de Pesquisa em Ciência e Arte de Nova York, fala à Agência FAPESP sobre a inexistência de barreiras entre arte e ciência, em exemplos como Duchamp e Picasso.
ENTREVISTA
Relações diretas
10/10/2006
Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
Agência FAPESP - Obras de gênios como Leonardo da Vinci ou Pablo Picasso provam a inexistência de barreiras entre arte e ciência. “A noção de que há uma separação entre essas duas culturas é irreal. Uma vez que se use uma abordagem científica na arte ou se empregue um método artístico na ciência, na prática o que se mostra é que nenhuma barreira real existe entre as duas”, disse Rhonda Roland Shearer, diretora do Laboratório de Pesquisa em Ciência e Arte de Nova York.
A norte-americana é uma das participantes do Simpósio Ciência e Arte 2006, no Rio de Janeiro, que começou na segunda-feira (9/10) e termina no dia 11. “As maiores revoluções que ocorreram na arte têm relação direta com as grandes mudanças na ciência”, disse à Agência FAPESP, citando como exemplo um dos principais campos de estudo da geometria descritiva, a perspectiva.
Segundo Rhonda, a perspectiva, desvendada no Renascimento, significou também uma revolução nas artes, sendo empregada séculos mais tarde em obras de modernistas como Picasso.
Inovações artísticas
Outra idéia científica utilizada na arte é a geometria não-euclidiana, um dos conceitos mais importantes no desenvolvimento da matemática, desenvolvida pelo físico e filósofo Jules Henri Poincaré no século 19. “A geometria não-euclidiana levou à existência de um espaço diferente do que se conhecia desde Euclides. Ela pode ser identificada, por exemplo, na obra de Marcel Duchamp”, disse a pesquisadora.
Considerado por muitos como o pioneiro do dadaísmo – movimento artístico da vanguarda modernista originado em 1915 e caracterizado pela incoerência, desordem e caos –, o francês Duchamp tinha muito interesse pela ciência.
“Discípulo de Poincaré, Duchamp compreendia a geometria não-euclidiana de modo mais sério e técnico do que qualquer outro artista de seu tempo. A questão é que não nos damos conta de que um ‘gênio’, uma vez categorizado como artista, pode também representar uma inovação na ciência”, afirmou Rhonda.
Um dos exemplos da harmoniosa relação entre arte e ciência na obra de Duchamp são os rotoreliefs, série de 12 discos giratórios originalmente pensada pelo artista como um experimento de óptica e percepção.
“Duchamp reconheceu que, por meio dos círculos giratórios convergentes, o espectador veria a forma resultante em terceira dimensão se olhasse para o centro do círculo apenas com um olho. Embora cientistas italianos fossem identificar esse efeito ilusório em 1924, Duchamp já tinha descoberto o fenômeno, em seus discos, um ano antes”, disse Rhonda.
Para a diretora do Laboratório de Pesquisa em Ciência e Arte de Nova York, diversos outros “inovadores” rotulados como “artistas” poderiam ser citados como exemplos daqueles que usaram suas ferramentas para fazer descobertas científicas.
“Infelizmente, as barreiras e fronteiras disciplinares têm sido reforçadas e levado à construção de dicotomias, como a da ‘ciência versus arte’, talvez uma das mais aceitas e estereotipadas de todas. A ciência acabou sendo categorizada como masculina e mental, enquanto a arte é vista como feminina e emocional”, criticou Rhonda.
O Simpósio Ciência e Arte 2006 é um evento preparatório da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que será realizada em todo o Brasil de 16 a 23 de outubro. O simpósio ocorre no campus da Fundação Osvaldo Cruz, uma das instituições promotoras do evento ao lado do British Council e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química.
Fonte: Agência FAPESP, 10/10/2006.
ENTREVISTA
Relações diretas
10/10/2006
Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro
Agência FAPESP - Obras de gênios como Leonardo da Vinci ou Pablo Picasso provam a inexistência de barreiras entre arte e ciência. “A noção de que há uma separação entre essas duas culturas é irreal. Uma vez que se use uma abordagem científica na arte ou se empregue um método artístico na ciência, na prática o que se mostra é que nenhuma barreira real existe entre as duas”, disse Rhonda Roland Shearer, diretora do Laboratório de Pesquisa em Ciência e Arte de Nova York.
A norte-americana é uma das participantes do Simpósio Ciência e Arte 2006, no Rio de Janeiro, que começou na segunda-feira (9/10) e termina no dia 11. “As maiores revoluções que ocorreram na arte têm relação direta com as grandes mudanças na ciência”, disse à Agência FAPESP, citando como exemplo um dos principais campos de estudo da geometria descritiva, a perspectiva.
Segundo Rhonda, a perspectiva, desvendada no Renascimento, significou também uma revolução nas artes, sendo empregada séculos mais tarde em obras de modernistas como Picasso.
Inovações artísticas
Outra idéia científica utilizada na arte é a geometria não-euclidiana, um dos conceitos mais importantes no desenvolvimento da matemática, desenvolvida pelo físico e filósofo Jules Henri Poincaré no século 19. “A geometria não-euclidiana levou à existência de um espaço diferente do que se conhecia desde Euclides. Ela pode ser identificada, por exemplo, na obra de Marcel Duchamp”, disse a pesquisadora.
Considerado por muitos como o pioneiro do dadaísmo – movimento artístico da vanguarda modernista originado em 1915 e caracterizado pela incoerência, desordem e caos –, o francês Duchamp tinha muito interesse pela ciência.
“Discípulo de Poincaré, Duchamp compreendia a geometria não-euclidiana de modo mais sério e técnico do que qualquer outro artista de seu tempo. A questão é que não nos damos conta de que um ‘gênio’, uma vez categorizado como artista, pode também representar uma inovação na ciência”, afirmou Rhonda.
Um dos exemplos da harmoniosa relação entre arte e ciência na obra de Duchamp são os rotoreliefs, série de 12 discos giratórios originalmente pensada pelo artista como um experimento de óptica e percepção.
“Duchamp reconheceu que, por meio dos círculos giratórios convergentes, o espectador veria a forma resultante em terceira dimensão se olhasse para o centro do círculo apenas com um olho. Embora cientistas italianos fossem identificar esse efeito ilusório em 1924, Duchamp já tinha descoberto o fenômeno, em seus discos, um ano antes”, disse Rhonda.
Para a diretora do Laboratório de Pesquisa em Ciência e Arte de Nova York, diversos outros “inovadores” rotulados como “artistas” poderiam ser citados como exemplos daqueles que usaram suas ferramentas para fazer descobertas científicas.
“Infelizmente, as barreiras e fronteiras disciplinares têm sido reforçadas e levado à construção de dicotomias, como a da ‘ciência versus arte’, talvez uma das mais aceitas e estereotipadas de todas. A ciência acabou sendo categorizada como masculina e mental, enquanto a arte é vista como feminina e emocional”, criticou Rhonda.
O Simpósio Ciência e Arte 2006 é um evento preparatório da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que será realizada em todo o Brasil de 16 a 23 de outubro. O simpósio ocorre no campus da Fundação Osvaldo Cruz, uma das instituições promotoras do evento ao lado do British Council e do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química.
Fonte: Agência FAPESP, 10/10/2006.