15 novembro 2008

Seminário “Ciência do Povo”

“A verdadeira ciência nasce do mesmo jeito da arte”, diz Ariano Suassuna.

O escritor e professor pernambucano participou do seminário “Ciência do Povo”, realizado na quarta e quinta-feira, em Natal

A ciência fundamentada no saber popular é usada de diversas formas de geração a geração, no entanto, precisa ser mais difundida junto a professores, estudantes e à sociedade em geral. Com esse objetivo foi realizado nos dias 12 e 13 em Natal o seminário Ciência do Povo – saberes e fazeres, práticas produtivas tradicionais, uma iniciativa da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do RN (Fapern) e Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec).

A conferência de abertura, realizada na noite de quarta-feira (12) pelo escritor e professor pernambucano Ariano Suassuana, atraiu 800 pessoas ao Teatro Alberto Maranhão (TAM) com o tema “Ciência Popular no Nordeste”.

Por meio das histórias nordestinas e bem-humoradas, a abertura do seminário deixou para o público a mensagem de que “não se deve deixar enganar por falsos cientistas dogmáticos. A verdadeira ciência nasce do mesmo jeito da arte. Nasce da intuição, da imaginação criadora, da dúvida. Não aceitem nada pronto”, disse Ariano Suassuna.

O segundo dia do seminário, ocorrido ontem, seguiu com duas mesas temáticas reunindo discussões dentro de temas como crenças populares, medicina natural, rezadeiras, etnoconhecimentos e saúde popular. As palestras conduzidas, principalmente, por professores das universidades de Natal, foi acompanhada por um público médio de 60 pessoas por turno.

O encerramento do Seminário ficou por conta do etnobotânico e professor do Inpa, o americano Glenn Harvey Shepard Junior. Há nove anos desenvolvendo estudos na Amazônia, no Alto Rio Negro, o pesquisador chama a atenção para a necessidade de diálogo e troca entre as ciências populares e tradicionais.

“O desafio é vencer o preconceito. No meu caso, observo que o índio tem muito a ensinar ao cientista porque ele conhece a diversidade e pisa no chão que analisamos principalmente por imagens via satélite. Do outro lado, o cientista pode ensiná-los a um aproveitamento mais auto-sustentável dos recursos disponíveis”.

Para o geógrafo e mestrando Alan de Araújo Roque, na prática, esse diálogo é difícil, pelo menos no contexto da comunidade rural de Lagoinhas, localizada em Caicó, onde ele pesquisou sobre a utilização de plantas nativas da caatinga com potencial medicinal. “Eles dizem que não podem misturar as duas medicinas. No interior, ainda continuam bastante viva os usos medicinais de lambedores, chás e garrafadas para curar doenças, ferimentos e picadas de animais”.
(Tribuna do Norte, 14/11)

Fonte: JC e-mail 3642, de 14 de Novembro de 2008.

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Cooperação Internacional na Era do Conhecimento

Centro de Gestão e Estudos Estratégicos promove workshop “Cooperação Internacional na Era do Conhecimento”


Evento acontece entre os dias 17 e 20 de novembro, no Hotel Rio Othon Palace, no Rio de Janeiro.

O objetivo é debater diretrizes e perspectivas das políticas e ações de cooperação internacional em ciência e tecnologia, a partir do entendimento do cenário atual e dos desafios futuros aí colocados. Trata-se de uma reunião de trabalho de alto nível, com participação de convidados selecionados por sua atuação e contribuição sobre o tema.

As discussões estarão estruturadas em cinco painéis temáticos:

- Cooperação internacional em C&T no novo quadro geopolítico mundial, com a participação de Rasigan Maharajh (Tshwane University of Technology), Jorge Grandi (Unesco/Mercosul), José Eduardo Cassiolato (UFRJ) e José Monserrat Filho (MCT)

- Redes de conhecimento e novos formatos institucionais na cooperação internacional em C&T, com Hernan Chaimovich (USP), Manuel Heitor (Secretaria de C&T e Ensino Superior de Portugal) e Luís Manuel Rebelo Fernandes (Finep)

- Obstáculos e oportunidades à circulação do conhecimento na cooperação internacional, com Carlos Correa (Universidad Autonoma de Buenos Aires), Ronaldo Fiani (UFRJ) e Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho (SBPC)

- Cooperação internacional em C&T e o desafio do desenvolvimento sustentável, com Gilberto Gallopín (Initiative on Science and Technology for Sustainability - ISTS), Bertha K. Becker (UFRJ), Roberto Smeraldi (Amigos da Terra) e Jacob Palis Júnior (ABC)

- Políticas e estratégias na cooperação internacional em C&T: panorama atual e perspectivas futuras, com Zhengzhong Xu (China National Academy of Nanotechnology and Engineering), Annalisa Primi (Cepal), Stefan Michalowski (OECD) e Wrana Panizzi (CNPq).

Haverá ainda uma sessão de resumo, conclusão e recomendações. Estão previstas, na sessão de abertura do evento, as presenças do ministro da C&T, Sergio Rezende; do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim; do secretário-executivo do MCT, Luiz Antonio Elias; e da presidente do CGEE, Lucia Melo. Também é esperada a presença do diretor-executivo da Academia de Ciências dos Países em Desenvolvimento (TWAS), Mohamed H. A. Hassan.

O encerramento do workshop ficará a cargo de José Monserrat Filho, do MCT, e Antonio Carlos Filgueira Galvão, diretor do CGEE.

Mais informações sobre o evento podem ser obtidas com Rita Assunção, pelo e-mail rassuncao@cgee.org.br ou fone (61) 3424-9634.

Fonte: JC e-mail 3638, de 10 de Novembro de 2008.

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Hospital da Unesp cria grupo de bioética

Núcleo formado por médicos e advogados vai avaliar e emitir pareceres sobre casos complexos de saúde

DA REPORTAGEM LOCAL

A Faculdade de Medicina de Botucatu, ligada à Universidade Estadual Paulista (Unesp), instituiu o Núcleo de Bioética em Situação Clínica, grupo que será responsável por abordar questões éticas em procedimentos clínicos no hospital da faculdade. Até então, o hospital tinha apenas o Núcleo de Bioética em Pesquisas.
Segundo o professor William Saad Hossne, coordenador do núcleo, a necessidade de criar um grupo para auxiliar na resolução de questões complexas de saúde existia há algum tempo no hospital. "A presença da bioética nas atividades e questões de saúde é cada vez mais freqüente e isso não é uma questão que afeta somente os médicos. É de extrema importância a relação com outras áreas", disse Hossne.
O núcleo é formado por médicos, enfermeiros, advogados, filósofos, assistentes sociais e representantes dos usuários dos serviços de saúde.
Eles vão avaliar individualmente os casos e emitir pareceres sobre situações clínicas em que haja alguma dúvida dos médicos e dos familiares em relação a conduta ética.
Uma das possíveis atuações será decidir como proceder com um paciente internado em estado terminal: se a família quiser, os médicos podem/devem ou não desligar os aparelhos do paciente? "As questões éticas envolvem toda a sociedade e não podem ser vistas exclusivamente sob o ângulo de um único profissional", disse.
O Hospital das Clínicas de São Paulo (HC), ligado à Universidade de São Paulo (USP), já possui um núcleo com atuação semelhante e serviu de exemplo para a instalação da comissão em Botucatu.

Fonte: Folha de S. Paulo (para assinantes), 10/11/2008,

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Reunião Ciência, Tecnologia e Sociedade IV

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) promove, entre os dias 26 e 28 de novembro, a quarta edição da Reunião Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS IV), realizada pela primeira vez no Brasil, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre - RS.

O evento é aberto ao público - não há necessidade de inscrição - e organizado em parceria com a Asociación Ciencia Hoy, a Asociación Argentina para el Progreso de las Ciencias (AAPC) e com a Sociedad Uruguaya para el Progreso de la Ciencia y la Tecnología (SUPCYT).

O objetivo é promover a cooperação científica e tecnológica entre os países do Mercosul, em particular entre as comunidades científicas brasileira, uruguaia e argentina, com a discussão de temas de pesquisas de comum interesse que já vêm sendo objeto de cooperação, como também de programas que poderiam ser desenvolvidos em parceria entre os laboratórios das instituições científicas e tecnológicas dos diferentes países.

As Reuniões anteriores foram realizadas de 2004 a 2007 na Argentina e no Uruguai, em sistema de rodízio entre os países organizadores.

As atividades são multidisciplinares, com o objetivo de subsidiar a consolidação de redes de cooperação entre pesquisadores e instituições e a inclusão efetiva da cooperação científica e tecnológica nas negociações do Mercosul, envolvendo pesquisadores das áreas das ciências exatas, naturais e humanas e das áreas aplicadas de saúde e tecnologia.

Programação
A programação será composta por conferências, mesas-redondas e debates que serão divulgados a partir de novembro.

Temas das atividades
Cooperação em Pós-Graduação, Biotecnologia Vegetal e Agrária, Biotecnologia Aplicada à Saúde, Desenho Industrial, Ensino de Ciências, Energia e Biocombustíveis, Metrologia e Certificação de Qualidade, Nanotecnologia, Propriedade Intelectual e Patentes, Recursos Aquáticos, Bibliotecas Virtuais, Tecnologias de Informação e Comunicação, Habitação, Neurobiologia, Geologia/Mapas, Aqüífero Guarani, Ciências Sociais, Institutos Regionais, Biodiversidade, Regulação Espacial e Projeto Auger.

Apoio
Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP

Realização
Asociación Ciencia Hoy
Asociación Argentina para el Progreso de las Ciencias - AAPC
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC
Sociedad Uruguaya para el Progreso de la Ciencia y la Tecnología - SUPCYT

Contato
eventos@sbpcnet.org.br

Fonte: SBPC, 02/10/2008.

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10 novembro 2008

Questão de qualidade

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – O número de publicações e doutorados na América Latina tem aumentado vertiginosamente nos últimos anos, mas um levantamento realizado entre pesquisadores seniores do continente mostra que, na percepção deles, a qualidade dessa produção científica deixa a desejar.

Para a maior parte dos 55 pesquisadores consultados, não houve melhora de qualidade das teses e dos doutorandos em relação há dez anos. Eles avaliam mal as capacidades dos jovens doutores para escrever artigos e consideram que há pressão por quantidade de publicação e não por qualidade. A pesquisa também detectou insatisfação com as políticas nacionais de pós-graduação e com o tamanho do mercado de trabalho para doutores.

O estudo foi publicado na revista canadense Comparative Biochemistry and Physiology, no quinto número de uma série de especiais dedicados ao trabalho de pesquisadores latino-americanos. A série, intitulada A face da bioquímica e fisiologia comparativa na América Latina - CBP-Latam, teve o objetivo de veicular mais de 120 artigos de cientistas latino-americanos no cenário internacional e discutir o processo de produção científica no continente.

O principal idealizador da série, Marcelo Hermes-Lima, professor do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB), é um dos autores do artigo. Participaram também Michelangelo Trigueiro, do Departamento de Sociologia da UnB, Cássia Polcheira, da Escola Superior de Ciências da Saúde, de Brasília, e René Belboni, da Unidade de Biotecnologia da Universidade de Ribeirão Preto, em São Paulo.

De acordo com Hermes-Lima, o trabalho se baseou em um questionário, elaborado por Trigueiro, com base na escala Lickert, amplamente usada em psicologia. Diante de uma série de afirmativas, os pesquisadores deviam marcar 1 em caso de discordância total e 6 em caso de concordância total. Foram consideradas discordantes as respostas de 1 a 3 e concordantes as respostas de 4 a 6

“Os questionários foram enviados a mais de 240 pesquisadores seniores brasileiros e estrangeiros da área de biologia e bioquímica comparada. O objetivo era saber como eles viam as políticas de ciência e pós-graduação no continente. O questionário também foi respondido por seis cientistas classificados como ‘mestres’, pelo notório reconhecimento em suas áreas” , disse Hermes-Lima à Agência FAPESP.

Segundo o professor, houve pouca divergência entre as respostas de pesquisadores brasileiros e estrangeiros e “mestres”. “A amostra não é estatisticamente válida, mas essa convergência mostra que o levantamento reflete uma visão geral dos pesquisadores da área”, declarou.

O resultado mais veemente se referiu à insuficiência do mercado de trabalho para doutores, segundo Hermes-Lima. A afirmativa “o mercado profissional pós-doutoral na minha área, no meu país, é atualmente excelente” mereceu a discordância de 85% dos entrevistados.

“O número de doutores no continente cresce a uma taxa de 10% ao ano. O levantamento indica que não há lugar para tantos doutores. A economia do país não cresce nesse ritmo, portanto não há sustentabilidade para um crescimento a uma taxa tão grande”, comentou Hermes-Lima.

Para Hermes-Lima, os resultados mais preocupantes se referem à qualidade da pesquisa. Cerca de 65% dos entrevistados discordaram de que a qualidade da produção científica – e não a quantidade – é o principal foco da pressão por publicações.

“Uma das afirmativas dizia que as teses defendidas nos últimos três anos na área do pesquisador consultado eram melhores do que as de dez anos atrás. Quase 60% discordaram veementemente, o que nos permite concluir que houve efetiva perda de qualidade”, disse.

A percepção sobre a capacidade para escrever artigos é ainda pior, de acordo com o estudo. Quase 70% dos consultados discordaram da afirmação “os pesquisadores que concluíram o doutorado na minha área, nos últimos três anos, são capazes de escrever papers de excelente qualidade, sobre questões científicas relevantes”.

“O mais grave é que esses resultados ainda foram distorcidos pelas notas mais baixas dos brasileiros, que corresponderam a três quartos dos que responderam. Podemos estar formando uma geração de doutores que são cientificamente analfabetos”, alertou.

A percepção relativa à infra-estrutura de pesquisa e ao currículo dos cursos de pós-graduação foi mais positiva, de acordo com o estudo. “Os brasileiros estão razoavelmente satisfeitos com a infra-estrutura que os outros latino-americanos. No total, mais de 52% dos pesquisadores aprovam as condições de trabalho em relação a isso. O currículo foi considerado coerente com os contextos modernos de pesquisa por 65% dos participantes”, declarou.

Mais de 77% dos entrevistados demonstraram falta de satisfação com as políticas nacionais para ciência e pós-graduação. A afirmativa “estou plenamente satisfeito com as políticas federais de avaliação e regulação dos programas de pós-graduação no meu país” teve 2 como nota mais freqüente, em uma escala de 1 a 6.

O artigo Perceptions of Latin American scientists about science and post-graduate education, de Marcelo Hermes-Lima e outros, pode ser lido em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18721892.

Fonte: Agência Fapesp, 10/11/2008.

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