30 março 2007

Resenha de Pierre Bourdieu - Os usos sociais da ciência.

> Por Tainã M.

Intentando desvendar os usos e conseqüências da ciência na sociedade, Bourdieu faz uma análise de sua estrutura interna e da história da ciência, explicando sua noção de "campo científico".E para tanto, explica esse conceito como "o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que produzem, reproduzem ou difundem a ciência". Relacionando o campo científico com seu próprio contexto histórico e apenas os agentes envolvidos internamente a ele, difere de outros tipos de análise, que consideram para seus estudos apenas os textos de determinada produção cultural (literária, científica, artística, filosófica, econômica, etc.), ou a consideram dentro de um contexto sócio-econômico e suas relações com outras manifestações de campos independentes no momento histórico. O autor então define o que acha importante para a ciência da ciência, deixando clara sua crítica à correntes, como a marxista, por sua necessidade de relacionar diversos campos, analisando intervenções de elementos artísticos com fatos políticos ou literatura à manifestações econômicas. Quando o autor fala sobre a impossibilidade de autonomia total na ciência, exemplificando com as ciências sociais, que devido à sua grande > politização é uma das áreas menos propensas à libertação das leis do > macrocosmo, deixa de lado as considerações sobre as outras ciências, que > também possuem (talvez até no mesmo nível), estudiosos e instituições tendenciosas, e não considera que enquanto a ciência for feita por seres humanos não há como fugir disso, pois é impossível medir quanto das ações > dos cientistas em qualquer área, vem de sua formação, ideais e relações > pessoais refletidas em seus atos e pesquisas, e o quanto é influenciado >somente por razões científicas.> Prejudicial à conquista da autonomia científica é a estrutura de poder > existente na sociedade, que se reflete nos campos que faz muito mais fácil > a conversão do capital científico particular (poder político e status > social) em reconhecimento e capital científico "puro" do que o contrário, > sendo inevitável que um bom cientista, aplicado em pesquisas sérias e > relevantes tenha seu merecido crédito sem que para isso faça uso de suas > relações pessoais e poderes sociais.> Além dos fatores internos do campo, há sempre a interferência de fatores > externos e cada pressão do mundo exterior será de maior ou menor > importância de acordo não só com a capacidade de refração ("reprodução sob > forma específica das pressões e demandas externas") de determinado campo, > mas também com a importância dada á cada fato em determinada área pela > sociedade em geral.> Tratando da especificidade do campo científico, Bourdieu afirma que > "quanto mais os campos científicos são autônomos, mais eles escapam às > leis sociais externas"> Vê-se que a autonomia é almejada por todo campo científico, e seus > agentes mais idôneos esforçam-se para isso, através de instrumentos ditos confiáveis > (mas nem sempre verificáveis) de objetivação e reconhecimento de pesquisas > e reais avanços em cada área específica.> A realidade mostra que na construção de uma "ciência pura", o > reconhecimento e a importância dada à cada agente do campo é baseada > também em relações sociais e interesses próprios, o que o autor chama de > "poder específico", ou simplesmente "prestígio", e dentro do campo > científico, suas características, estrutura, objetos de estudo e > mobilidade hierárquica e social são definidos pelo "capital científico", > ou seja, o reconhecimento ou crédito dado ao pesquisador/instituição por > seu colegas, o que nem sempre é conseguido de maneira neutra.> Outra área importante e digna de concentração mais profunda é a > divulgação científica, que embora tenha evoluído em sua autonomia, ainda > sofre influências de diversos grupos externos, causando sempre questões > éticas, pois os estudiosos precisam de recursos econômicos para > desenvolver suas pesquisas, e os financiadores (sejam de ordem pública ou privada) têm seus interesses e seus meios para fazer com que sejam satisfeitos.

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