27 fevereiro 2009

I Fórum Mundial Ciência e Democracia incentiva criação de rede internacional que ressalte a importância da C&T

“É necessário aprofundar nossa compreensão a respeito de como a ciência e a tecnologia são parte tanto das causas quanto das possibilidades de superação dessas crises”, aponta o documento final do encontro, realizado entre 26 de janeiro e 1º de fevereiro, em Belém, PA.

Leia a íntegra do documento:

“O presente texto é o resultado inicial do I Fórum Mundial Ciência e Democracia realizado em Belém de 26 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009. Foi elaborado e subscrito por participantes de 18 países em quatro continentes. Ele dá início a um processo amplo e inclusivo tendo por objetivo construir uma rede internacional de movimentos, organizações e indivíduos que compartilham questionamentos a respeito da ciência, da tecnologia, e de outras formas de conhecimento, à luz dos interesses sociais e democráticos.

Questionamentos e diretrizes

1. Todo conhecimento, inclusive a ciência, é herança comum da humanidade. Expandir o conhecimento tem sido uma das aspirações mais fundamentais da humanidade ao longo da história.

2. O conhecimento e os métodos de sua produção podem resultar tanto na emancipação e no bem de todos, como em dominação e opressão.

3. Apoiamos os regimes que garantem e promovem os bens públicos e comuns e outros sistemas de recompensa da inovação que não envolvem a criação de monopólios de conhecimento e geração de lucros.

4. A ciência e a tecnologia estão implicadas nas crises que assolam o mundo nos dias de hoje – a crise econômica, a ecológica, a energética e as relacionadas à segurança alimentar, à democracia, à guerra e ao militarismo. É necessário aprofundar nossa compreensão a respeito de como a ciência e a tecnologia são parte tanto das causas quanto das possibilidades de superação dessas crises.

5. É necessário reconhecer que os valores das comunidades científicas são moldados por processos históricos e culturais. A autonomia e a responsabilidade social dos pesquisadores, bem como o caráter público e universal da ciência, precisam ser promovidos, porém levando em conta as diversidades sociais e culturais do tempo presente.

6. Reconhecemos que em diferentes países, e em diversos níveis, incluindo o das instituições científicas e o das comunidades locais, existem diferentes regimes de produção do conhecimento. Os contextos históricos influenciam os desenvolvimentos políticos, culturais, educacionais e científicos na sociedade, dando origem à diversidade na produção do conhecimento tanto científico quanto tradicional. É necessário um novo tipo de sistema de eco-conhecimento adequado a diferentes regimes de propriedade intelectual. Nesse contexto apoiamos iniciativas como a do Acesso Aberto para as publicações científicas.

7. Devem ser promovidas iniciativas visando o envolvimento informado de cidadãos nos processos de tomada de decisões relativas às políticas científicas e tecnológicas em todos os níveis, internacional, nacional e local.

8. É necessário mudar a situação atual, em que os interesses do mercado, o lucro das empresas, a cultura consumista e os usos militares são os principais fatores determinantes dos rumos da pesquisa científica, tecnológica, e da inovação.

9. Adotamos a preservação da vida humana como um valor primordial, e assim conclamamos as comunidades científicas e tecnológicas a não se envolverem em pesquisas com fins militares.

10. É imprescindível promover a participação social e o empoderamento da população a fim de exercer o controle democrático sobre as políticas científicas e tecnológicas.

11. É necessário desenvolver sistemas de pesquisa colaborativos e participativos, de baixo para cima.

12. Temos por objetivo a construção de uma rede internacional que ressalte a importância da ciência e da tecnologia, mas questionando as tendências perigosas que elas manifestam nos dias de hoje em relação à democracia, ao meio ambiente, e à dinâmica da globalização capitalista.

13. Esta rede aberta deve incluir as comunidades da ciência e da tecnologia, e diversos movimentos sociais. Nosso objetivo é estabelecer um diálogo democrático e uma relação de colaboração entre organizações científicas e de cidadãos, e movimentos sociais.

14. A rede visa fortalecer os movimentos que questionam a maneira como a ciência e a tecnologia são dominadas por interesses empresariais, privados, militares, políticos e estatais, que afetam os valores éticos e a produção do conhecimento científico e tecnológico.

O presente texto é dirigido a

- Cientistas, tecnólogos, acadêmicos, educadores e especialistas, e suas instituições no mundo todo;

- Povos indígenas, associações de agricultores, sindicatos e outros movimentos sociais e políticos, ONGs, organizações e instituições no campo da ciência e da tecnologia;

- Todos os participantes dos fóruns globais, regionais e locais;

- Autoridades internacionais, regionais, nacionais e locais em todo o mundo.

A ciência, a pesquisa, as tecnologias e inovações estão ligadas a questões amplas e importantes referentes ao futuro de nossas sociedades e do meio ambiente. Conclamamos todos, portanto, a estabelecer conexões concretas entre as respectivas agendas e prioridades políticas e o conteúdo deste documento.

Convidamos todas as organizações científicas e sociais, participantes dos Fóruns Sociais, e cidadãos no mundo todo a ampliar e fortalecer este movimento a partir de agora, de acordo com a seguinte agenda: janeiro de 2010 - Fóruns regionais Ciência e Democracia; janeiro de 2011 - II Fórum Mundial Ciência e Democracia.

Conclamamos todas as pessoas, e todas as organizações, movimentos e redes, a organizar debates públicos a fim de conscientizar a maior parte de nossas respectivas sociedades e comunidades a respeito dessas questões.”

Fonte: JC e-mail 3709, de 26 de Fevereiro de 2009.

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Formação de pesquisadores

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Uma pesquisa sobre o percurso científico e o destino profissional de alunos universitários de graduação e pós-graduandos que solicitaram bolsas à FAPESP entre 1992 e 2002 acaba de ter seus resultados publicados no livro Perfil e trajetória acadêmico-profissional de bolsistas da FAPESP, editado pela Fundação.

O estudo corresponde à segunda parte do projeto Sistema de Avaliação de Resultados de Políticas de Fomento, iniciado em 2004 com o objetivo de contribuir para a elaboração de diagnósticos da situação da ciência e tecnologia no Estado de São Paulo e para a formulação de políticas públicas na área.

A primeira parte do projeto consistiu em um inventário dos equipamentos científicos e tecnológicos adquiridos no período de 1995 a 2002 com apoio da FAPESP. Os resultados foram publicados no livro Parque de Equipamentos de Pesquisa, em 2007. O projeto foi conduzido pelos professores Carlos Vogt, Geraldo Di Giovanni, Eugênia Charnet, Helena Carmo Antunes e Jocimar Archangelo.

De acordo com Celso Lafer, presidente da FAPESP, a iniciativa permite avaliar os impactos do trabalho feito pela Fundação ao tipificar a demanda dirigida à instituição em diversas áreas do conhecimento. “A FAPESP dedica uma parte importante de sua receita – cerca de um terço dela – à formação de recursos humanos, pois não há pesquisa de qualidade sem pesquisadores qualificados. O livro permite mensurar os resultados desse investimento, apresentando um cuidadoso mapeamento da trajetória científica e profissional de cerca de 5 mil bolsistas, indicando onde eles passaram a exercer suas atividades”, disse à Agência FAPESP.

Segundo Lafer, além de ser uma forma de prestar contas à sociedade em relação aos investimentos da FAPESP, os resultados, que serão acoplados ao Sistema de Apoio a Gestão (SAGe), servirão como instrumento de gestão da Fundação.

“O estudo resultará em um banco de dados dinâmico que constituirá, para a FAPESP, um mecanismo perene de suporte à avaliação. Esse trabalho, portanto, será integrado ao próprio processo decisório da Fundação”, destacou.

O levantamento indica que, entre os contemplados com pelo menos uma modalidade de bolsa, mais da metade (54,5%) chegou ao doutorado. Desses doutores, cerca de 77% atuam hoje em instituições de ensino e pesquisa e só 13,2% não prosseguiram na carreira acadêmica.

Segundo Lafer, um dos dados que mais chamam a atenção é que 18,6% dos pesquisadores que tiveram bolsas da FAPESP e seguiram carreira acadêmica atuam hoje fora do Estado de São Paulo. Outros 79,7% permanecem em território paulista e 1,7% está no exterior.

“Observando o mapa da distribuição atual desses pesquisadores no Brasil, incluído no livro, podemos ver como essa qualificação de pessoal se irradia pelo país. Isso demonstra como a FAPESP é decisiva para a produção científica nacional”, disse.

Distribuição equilibrada

De acordo com Vogt, secretário do Ensino Superior de São Paulo e ex-presidente da FAPESP, é importante que a Fundação tenha subsídios para avaliar seus programas e políticas de fomento. “Análises como essa permitem avaliar a eficácia de suas formas de apoio, que se traduz nos resultados alcançados. Os resultados mostram que as políticas da FAPESP são adequadas e coerentes e podem ajudar a Fundação a melhorá-las”, disse.

Segundo Di Giovanni, o levantamento demandou um trabalho intenso por parte da equipe, já que os quase 12 mil processos que compõem a amostra foram selecionados manualmente de um total de 53.789. Os dados do início da década de 1990 não estavam digitalizados.

“Enviamos cartas para os ex-bolsistas que estavam cadastrados, mas em muitos casos a única alternativa foi telefonar para as instituições às quais eles eram vinculados ou para seus ex-orientadores. Quando conseguimos os contatos, enviamos e-mails com questionários eletrônicos. Isso nos ajudou a mapear a trajetória de 5 mil bolsistas em 12 campos do conhecimento”, explicou.

Os dados destacam que a distribuição das bolsas é bem equilibrada entre as diversas áreas e entre as diferentes naturezas institucionais. “Fica claro que a FAPESP financia igualmente as pesquisas em ciências exatas e humanas, tanto nas instituições públicas como nas particulares”, disse o pesquisador do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A distribuição das bolsas por gênero também é isonômica: homens e mulheres procuraram por apoio da FAPESP na mesma medida em que os gêneros se inserem em cada campo do conhecimento, com maior proporção de homens em astronomia e ciências espaciais, economia e administração, geociências, matemática, física, química e engenharia. As mulheres, por outro lado, são maioria em arquitetura e urbanismo, agronomia e veterinária, biologia, saúde e ciências humanas e sociais.

O estudo mostra também que os bolsistas têm perfil com características típicas do ensino superior brasileiro de modo geral. Predominam os brancos e egressos do ensino médio regular, cursado em período diurno e em escola privada.

O estudo também considerou aqueles que não tiveram seu pedido de bolsa concedido, grupo que corresponde a cerca de 35% da amostra analisada. Entre eles, a maioria manteve o projeto inicial e seguiu a carreira acadêmica com recursos próprios ou submeteu o projeto a outras agências de fomento.

Dos bolsistas que se tornaram pesquisadores, 26,4% se ligaram à Universidade de São Paulo, 9,1% à Universidade Estadual Paulista, 8,4% à Unicamp, 27% a outras instituições públicas e 27,3% a instituições privadas.

Dentre os tipos de trajetórias identificadas, 42,5% incluem iniciação científica, 31,4% mestrado, 17,7% doutorado e 8,5% pós-doutorado. O conceito de trajetória adotado se refere ao caminho percorrido pelo cientista durante a sua vida profissional.

O estudo também incluiu uma avaliação dos ex-bolsistas sobre a FAPESP. Os resultados mostram alto grau de satisfação em todas as dimensões abordadas. Mais de 92% dos entrevistados classificaram sua satisfação com a bolsa recebida com notas 8, 9 e 10 em uma escala de 0 a 10.

O livro Perfil e trajetória acadêmico-profissional de bolsistas da FAPESP pode ser baixado em arquivo pdf no endereço http://www.fapesp.br/publicacoes/perfilbolsistas.pdf.

Fonte: Agência Fapesp, 26/02/2009.

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