Resenha da obra “A comunicação científica” de A.J. Meadows.
Por Paulo Rogério Romagna
Antes que o homem aprendesse a falar, provavelmente se comunicava por gestos ou por desenhos. Com o domínio da fala e o surgimento das linguagens, a comunicação se tornou extremamente mais rápida e eficaz, sendo que boa parte do conhecimento adquirido nos primórdios de nossa história era transmitida oralmente. Tal meio de transmissão do conhecimento tinha por característica a efemeridade, já que não podia ser registrado. A partir do surgimento da escrita e do aperfeiçoamento dos suportes, chegando até à página impressa, conseguiu-se registrar a informação de forma duradoura.
A comunicação científica pode ser definida como a troca de informações entre membros da comunidade científica. Ela cumpre a função de “dar continuidade ao conhecimento científico, disseminando esse conhecimento a outros cientistas que podem, a partir daí, desenvolver outras pesquisas, para corroborar ou refutar os resultados de pesquisas anteriores, ou estabelecer novas perspectivas naquele campo de interesse. Por meio da comunicação científica, os membros dessa comunidade se mantêm informados sobre as tendências da área, os estudos já realizados e seus resultados”.
Segundo Meadows, a página impressa - principalmente os periódicos científicos – constitui o principal canal de comunicação científica. A internet vem se revestindo de importância cada vez maior, principalmente devido à tendência de se disponibilizarem periódicos on-line. As redes de computadores são também exaustivamente usadas na comunicação informal entre cientistas.
O autor retorna no tempo cerca de 350 anos e discorre sobre o surgimento das sociedades científicas e dos primeiros periódicos científicos. Relata-se que Isaac Newton mencionou ter-se apoiado no “ombro de gigantes” para poder realizar suas descobertas, o que deixa claro que o processo de acumulação do conhecimento envolve o fornecimento de informações sobre o próprio trabalho num processo de troca com outros pesquisadores. Impressiona os dados apresentados pelo autor, referente ao aumento no número de títulos de periódicos e de livros científicos publicados nos últimos cinqüenta anos. O crescimento é exponencial e o fenômeno foi batizado como “explosão da informação”. Tal crescimento conduz o pesquisador a uma especialização cada vez maior, o que também é notável num exame dos periódicos fundados recentemente. Os periódicos mais antigos implicavam uma cobertura maior de determinada área do conhecimento.
A explosão da informação fez com que a comunicação científica se tornasse cada vez mais dependente das funções da recuperação de informação. Um exame superficial do assunto pode levar à conclusão de que tal processo é complicado, o que não corresponde necessariamente à realidade; o próprio Meadows afirma que esse crescimento não ocorreu de forma caótica, e que a ciência tem crescido de forma relativamente ordenada, assim como a própria comunicação científica. Pode-se atribuir esse fato às regras e práticas, estabelecidas e seguidas pela comunidade científica, para a comunicação entre seus membros. Estamos falando da padronização na apresentação e organização da informação, envolvendo resumos, citações, criação de palavras-chave, procedimentos de indexação, etc. Meadows menciona, por exemplo, que há duzentos anos as citações quase inexistiam e, quando eram feitas, não obedeciam a qualquer regra, sendo que cada autor escolhia a forma de fazê-las, muitas vezes apenas mencionando o nome da pessoa responsável pela informação, sem maiores detalhes.
Não há como negar que a padronização permite recuperação relativamente fácil de um documento, mesmo num ambiente de grande volume de publicações, o que nas últimas décadas foi ainda mais facilitado pelo barateamento dos equipamentos de informática e mais recentemente com a proliferação das redes de computadores. O avanço das tecnologias de informação, além de melhorar a recuperação e disseminação dos artigos científicos, também permitiu uma melhoria substancial na sua produção. A composição e editoração eletrônicas permitem encurtar o tempo entre a escrita de um artigo e sua publicação. A obtenção de imagens de qualidade para ilustrar um artigo (o que há 200 anos era um enorme desafio) ficou grandemente simplificada, sendo que muitos autores produzem suas próprias fotografias com câmeras digitais de baixo custo, amplamente disponíveis. Fotografias de estruturas microscópicas com aparência profissional podem ser feitas com o uso de um microscópio com câmera digital embutida, que transfere as imagens produzidas via conexão USB para um computador (o custo de tal equipamento é de aproximadamente 150 dólares).
Meadows aborda o papel das bibliotecas na comunicação científica via impressos em papel, atribuindo a elas o segundo lugar (em primeiro viriam as editoras). Menciona que as bibliotecas constituem os mais importantes compradores de publicações científicas, incluindo livros e periódicos, sendo que suas escolhas afetam editoras e leitores. As bibliotecas universitárias e as especializadas são mencionadas como maiores compradores de livros e periódicos científicos. O tema recorrente da necessidade de uma perfeita organização do acervo também é lembrado por Meadows, sendo que o autor se mostra um tanto crítico com respeito às bibliotecas e aos bibliotecários dos países em desenvolvimento. Menciona que nesses últimos os acervos crescem lentamente e que as condições climáticas favorecem a deterioração do acervo, o que é agravado pela falta de recursos financeiros para compra de equipamentos de controle ambiental (controle de umidade e temperatura). Ressalta também que os bibliotecários desses países se encaram apenas como “custódios do conhecimento”, demonstrando pouco dinamismo, não interagindo de forma adequada com os pesquisadores, o que pode resultar em deficiências no acervo da instituição, com prejuízo para as pesquisas. A análise dessa questão pelo autor parece não merecer muito crédito, já que seu argumento parte de uma generalização. Meadows menciona o período de transição (agora mais consolidado) do suporte físico para o suporte eletrônico. Isso levanta uma questão fundamental e ainda hoje não completamente resolvida envolvendo as bibliotecas, a saber, como elas irão migrar para esse mundo eletrônico.
A obra de Meadows, ao responder várias questões latentes na mente do leitor e ao sugerir várias outras em seu final, nos posiciona na corrente da evolução da comunicação científica e nos dá um vislumbre de seus desdobramentos futuros.
Antes que o homem aprendesse a falar, provavelmente se comunicava por gestos ou por desenhos. Com o domínio da fala e o surgimento das linguagens, a comunicação se tornou extremamente mais rápida e eficaz, sendo que boa parte do conhecimento adquirido nos primórdios de nossa história era transmitida oralmente. Tal meio de transmissão do conhecimento tinha por característica a efemeridade, já que não podia ser registrado. A partir do surgimento da escrita e do aperfeiçoamento dos suportes, chegando até à página impressa, conseguiu-se registrar a informação de forma duradoura.
A comunicação científica pode ser definida como a troca de informações entre membros da comunidade científica. Ela cumpre a função de “dar continuidade ao conhecimento científico, disseminando esse conhecimento a outros cientistas que podem, a partir daí, desenvolver outras pesquisas, para corroborar ou refutar os resultados de pesquisas anteriores, ou estabelecer novas perspectivas naquele campo de interesse. Por meio da comunicação científica, os membros dessa comunidade se mantêm informados sobre as tendências da área, os estudos já realizados e seus resultados”.
Segundo Meadows, a página impressa - principalmente os periódicos científicos – constitui o principal canal de comunicação científica. A internet vem se revestindo de importância cada vez maior, principalmente devido à tendência de se disponibilizarem periódicos on-line. As redes de computadores são também exaustivamente usadas na comunicação informal entre cientistas.
O autor retorna no tempo cerca de 350 anos e discorre sobre o surgimento das sociedades científicas e dos primeiros periódicos científicos. Relata-se que Isaac Newton mencionou ter-se apoiado no “ombro de gigantes” para poder realizar suas descobertas, o que deixa claro que o processo de acumulação do conhecimento envolve o fornecimento de informações sobre o próprio trabalho num processo de troca com outros pesquisadores. Impressiona os dados apresentados pelo autor, referente ao aumento no número de títulos de periódicos e de livros científicos publicados nos últimos cinqüenta anos. O crescimento é exponencial e o fenômeno foi batizado como “explosão da informação”. Tal crescimento conduz o pesquisador a uma especialização cada vez maior, o que também é notável num exame dos periódicos fundados recentemente. Os periódicos mais antigos implicavam uma cobertura maior de determinada área do conhecimento.
A explosão da informação fez com que a comunicação científica se tornasse cada vez mais dependente das funções da recuperação de informação. Um exame superficial do assunto pode levar à conclusão de que tal processo é complicado, o que não corresponde necessariamente à realidade; o próprio Meadows afirma que esse crescimento não ocorreu de forma caótica, e que a ciência tem crescido de forma relativamente ordenada, assim como a própria comunicação científica. Pode-se atribuir esse fato às regras e práticas, estabelecidas e seguidas pela comunidade científica, para a comunicação entre seus membros. Estamos falando da padronização na apresentação e organização da informação, envolvendo resumos, citações, criação de palavras-chave, procedimentos de indexação, etc. Meadows menciona, por exemplo, que há duzentos anos as citações quase inexistiam e, quando eram feitas, não obedeciam a qualquer regra, sendo que cada autor escolhia a forma de fazê-las, muitas vezes apenas mencionando o nome da pessoa responsável pela informação, sem maiores detalhes.
Não há como negar que a padronização permite recuperação relativamente fácil de um documento, mesmo num ambiente de grande volume de publicações, o que nas últimas décadas foi ainda mais facilitado pelo barateamento dos equipamentos de informática e mais recentemente com a proliferação das redes de computadores. O avanço das tecnologias de informação, além de melhorar a recuperação e disseminação dos artigos científicos, também permitiu uma melhoria substancial na sua produção. A composição e editoração eletrônicas permitem encurtar o tempo entre a escrita de um artigo e sua publicação. A obtenção de imagens de qualidade para ilustrar um artigo (o que há 200 anos era um enorme desafio) ficou grandemente simplificada, sendo que muitos autores produzem suas próprias fotografias com câmeras digitais de baixo custo, amplamente disponíveis. Fotografias de estruturas microscópicas com aparência profissional podem ser feitas com o uso de um microscópio com câmera digital embutida, que transfere as imagens produzidas via conexão USB para um computador (o custo de tal equipamento é de aproximadamente 150 dólares).
Meadows aborda o papel das bibliotecas na comunicação científica via impressos em papel, atribuindo a elas o segundo lugar (em primeiro viriam as editoras). Menciona que as bibliotecas constituem os mais importantes compradores de publicações científicas, incluindo livros e periódicos, sendo que suas escolhas afetam editoras e leitores. As bibliotecas universitárias e as especializadas são mencionadas como maiores compradores de livros e periódicos científicos. O tema recorrente da necessidade de uma perfeita organização do acervo também é lembrado por Meadows, sendo que o autor se mostra um tanto crítico com respeito às bibliotecas e aos bibliotecários dos países em desenvolvimento. Menciona que nesses últimos os acervos crescem lentamente e que as condições climáticas favorecem a deterioração do acervo, o que é agravado pela falta de recursos financeiros para compra de equipamentos de controle ambiental (controle de umidade e temperatura). Ressalta também que os bibliotecários desses países se encaram apenas como “custódios do conhecimento”, demonstrando pouco dinamismo, não interagindo de forma adequada com os pesquisadores, o que pode resultar em deficiências no acervo da instituição, com prejuízo para as pesquisas. A análise dessa questão pelo autor parece não merecer muito crédito, já que seu argumento parte de uma generalização. Meadows menciona o período de transição (agora mais consolidado) do suporte físico para o suporte eletrônico. Isso levanta uma questão fundamental e ainda hoje não completamente resolvida envolvendo as bibliotecas, a saber, como elas irão migrar para esse mundo eletrônico.
A obra de Meadows, ao responder várias questões latentes na mente do leitor e ao sugerir várias outras em seu final, nos posiciona na corrente da evolução da comunicação científica e nos dá um vislumbre de seus desdobramentos futuros.
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