02 maio 2007

Resenha - Meadows

A comunicação científica – A.J. Meadows

A ciência não teria motivo de existência se não fosse a comunicação de seu andamento e principalmente de seus resultados ao público de interesse.
Apesar de não se pode especificar quando exatamente surgiu a comunicação científica, sabe-se que foram os gregos os primeiros a comunicarem entre si suas idéias “acadêmicas”, através da fala e da escrita. Eles realizavam debates em simpósios onde a troca de idéias sobre ciência coexistia com bebidas alcoólicas e outros festejos.
Desde então, a comunicação científica sofreu apenas algumas modificações quanto a seu método (além de vasto aperfeiçoamento de seus veículos), pois continua sendo realizada em congressos e outros eventos, através de conversas formais e informais e também pelos textos escritos.
Obviamente, conforme o crescimento do material científico, tiveram que se expandir também os canais e o alcance dos mesmos para a comunicação das pesquisas, donde observamos então o aparecimento das revistas especializadas, a partir do séc. XVII em Londres, pioneiramente pela Royal Society.
Durante os últimos 50 anos os números de crescimento no volume de periódicos e livros científicos aumentaram de forma exponencial, influenciados pela “’explosão de informações” ocorrida na sociedade nesta época.
Meadows desenvolve a idéia da ciência (e penso que isso pode ser entendido mais especificamente como o conteúdo das pesquisas científicas em determinado campo) comparando-a a um balão em expansão, onde a parte de dentro representa todo o conhecimento científico acumulado em determinada área, e a superfície do balão é o ponto onde o cientista precisa chegar para alcançar a algum avanço e ultrapassando e acrescendo algo à superfície representaria um real avanço na área.
Devido ao crescimento ininterrupto da acumulação de informações e o aumento da velocidade de descobertas, os pesquisadores têm que acumular cada vez mais conhecimento para poder chegar á superfície do balão (ao nível do que é pesquisado atualmente) e poder chegar á algum avanço concreto.
Diante disso, uma tendência crescente observada nas ciências é a maior especialização das áreas, pois dessa forma o cientista pode ser competente em um segmento de determinado campo extenso, onde seria impossível obter êxito sem essa especialização.
Á partir disso, pode-se observar também o aumento no nível de profissionalização dos pesquisadores, que hoje podem trabalhar com seus estudos diretamente em empresas, para inovações e pesquisas mais objetivas aos interesses industriais.
No capítulo 2 – Tradições da pesquisa, o autor começa apresentado as divisões básicas das ciências e discutindo a natureza das diferenças entre as disciplinas.
Algumas características das divisões do conhecimento são: a classificação por semelhanças e diferenças das áreas, e a questão de não produzirem divisões marcantes nem claras entre diferentes disciplinas.
Percebemos que o aspecto principal gerado pelas divisões e categorizações da ciência é a dúvida sobre os limites e interseções de cada área, por diferenças de visões (devidas à nacionalidade e/ou área específica de origem), na delimitação das linhas que dividem cada campo científico. Isso atrapalha entre outros aspectos, a comunicação entre cientistas de diferentes frentes e principalmente entre cientistas e o público em geral.
A expansão da pesquisa gera novas especialidades, o que dificulta ainda mais o trabalho de delimitação dos campos. Observa-se que existe atualmente muita dificuldade nas definições de áreas próxima, como exemplo as humanidades e as ciências sociais.
Isso acarreta mudanças nas intenções do cientista em suas publicações, antes a maior preocupação do especialista era situar seu texto no contexto existente, e atualmente muitos pesquisadores consideram primordial as possibilidades de interação do leitor com o texto.
Podemos citar diferenças quanto à publicação de artigos enviados aos periódicos, de acordo com a natureza das disciplinas, onde alguns dos principais critérios são:
Nas ciências exatas o que influencia em primeiro lugar são a avaliação de erros e a padronização do texto de acordo com as regras específicas de cada campo. Já nas ciências humanas o que mais conta são os avanços criativos mostrados nos estudos.
Para comunicação com um público mais extenso, que não costuma ler material científico, há preferência por temas que sejam considerados jornalísticos, ou seja, que interessem ao público por ter influência rápida e direta na vida das pessoas e nota-se que na publicação de pesquisa em humanidades a mídia concentra-se principalmente no objeto de pesquisa e não na própria pesquisa.
De acordo com os avanços das tecnologias da informação, foram geradas algumas diferenças na publicação entre matérias: as ciências sociais e humanidades publicam mais livros baseadas principalmente em conhecimentos acumulados e interpretações de textos. E as ciências naturais publicam mais em periódicos e valorizam sobretudo as novas descobertas.
A principal vantagem proporcionada pelas tecnologias da informação é a aceleração e otimização nos processos de divulgação, interação e respostas ás pesquisas.
Passando ao cap. 3 – Quem pesquisa e com quais resultados?, vemos que para responder à primeira pergunta, o autor investiga os motivos que levam alguém a se tornar um pesquisador, ingressando num programa de pós-graduação. Alguns dos fatores de influência mais citados, segundo pesquisa apontada neste capítulo, são a intenção de continuar o desenvolvimento intelectual, contribuir para o conhecimento na área, servir à humanidade, além dos interesses financeiros.
As pessoas que optam pela carreira acadêmica, ao invés de uma profissionalização voltada á empresas e indústrias o fazem principalmente pela liberdade de publicar e de escolher seus projetos dentro da universidade, enquanto os que preferem trabalhar em indústrias, procuram os melhores salários e a maior disponibilidade de equipamentos como vantagens às suas carreiras.
Para entender a vocação para a ciência de acordo com as áreas exatas e humanas, foi feita uma pesquisa a respeito da percepção que os estudantes britânicos têm dos cientistas, e percebeu-se que os pesquisadores das humanas são vistos como menos dedicados ao trabalho e menos úteis à sociedade, porém passam a impressão de serem mais sociáveis e imaginativos, enquanto os cientistas da área de exatas são vistos como mais aplicados e responsáveis, porém menos comunicativos e criativos.
Isso demonstra o preconceito que envolve os cientistas da área de humanidades, pois o público em geral tem a impressão de que ciência é algo da área da física, química, astrologia ou qualquer disciplina exata, e os cientistas da área de humanas, não são vistos como cientistas sérios, o que é ressaltado pelo fato do próprio Meadows dizer “ciência” somente quando se refere ás ciências exatas.
Ele então torna a falar sobre tecnologias de informação, ressaltando as possibilidades de cooperação na escrita e conseqüente aumento do nível de pesquisas em geral.
No capítulo 4, Meadows fala sobre os canais da comunicação científica, afirmando que as principais ferramentas usadas para isso são os livros e periódicos, e além disso descreve os outros meios utilizados pela grande maioria dos pesquisadores, os meios orais utilizados para transferência de informações em conversas informais, seminários e eventos em geral, onde apesar de ser visto que o objetivo principal dos cientistas é tecer e fortalecer redes pessoais e sociais, há grandes vantagens observadas, pois a rapidez da comunicação e as possibilidades de interação e reposta são melhor exploradas.
Esses hábitos de comunicação mudam de acordo com as áreas de pesquisas, sendo que o pessoal das ciências exatas costuma publicar seus projetos na maior parte em periódicos e os pesquisadores das humanas tendem a escrever mais livros do que artigos.
No último capítulo do livro, Meadows aborda então diretamente a questão do papel do profissional da informação nas pesquisas científicas, apesar desse profissional ter participação sempre presente, desde o começo dos projetos até a divulgação de seus resultados.
Os pesquisadores costumam fazer seu trabalho sozinhos, com ajuda de colegas ou também com o auxílio dos bibliotecários, que notam entre as dificuldades de atendimento á seus usuários, o problema que os cientistas têm em definir e comunicar o que realmente precisam.
Outras problemáticas dos bibliotecários podem ser igualadas ás dificuldades dos próprios pesquisadores, que se sentem “perdidos” em meio á tanta informação gerada e circulante na rede atualmente. Porém, a seu favor, o bibliotecário tem seus conhecimentos de ferramentas de buscas e fontes de informação confiáveis, coisas que um pesquisador comum tende a desconhecer, demonstrando assim a importância do cientista da informação á continuidade das pesquisas.
Desde o advento da ciência, percebemos grandes avanços na comunicação de seus resultados, e atualmente, com o uso cada vez maior de meios eletrônicos para divulgação científica, seu uso se torna cada vez mais necessário, e desde a data de publicação desse livro até hoje, vemos que algumas coisas já evoluíram, como a credibilidade e importância dos periódicos eletrônicos.
As tecnologias da informação se desenvolvem a medida em que são necessárias. Por isso podemos esperar sempre mais avanços tecnológicos em períodos menores de tempo.

Tainã M.

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