10 maio 2007

Resenha do livro:
MEADOWS, A. J.; A comunicação científica. Brasília, DF: Briquet de Lemos Livros, 1999.
Por Luciana Lavezzo

Capítulo 1 – Mudança e crescimento
Toda a informação produzida por um cientista é divulgada a cada tempo com o uso de melhores tecnologias tais como retroprojetores e apresentações feitas em computadores, também o público-alvo cada vez mais é composto por especialistas. Com isto as informações passam a ser expostas com mais dinamismo. A evolução dos meios de comunicação e as necessidades dos produtores e receptores das informações no meio científico são dois dos fatores que explicam este desenvolvimento acelerado do crescimento da difusão da informação.
O distanciamento entre os pares afeta a maneira da comunicação e os meios utilizados, pois cientistas próximos geograficamente (na mesma cidade, na mesma universidade) utilizam-se de meios mais simples e informais de troca de informações, e os mais distantes (alocados em cidades ou paises diferentes) utilizam outros meios mais abrangentes para envio ou busca de informações. Cientistas que trabalham diretamente entre si utilizam com freqüência meios informais como e-mails, enquanto os que pretendem descobrir teorias e inovações elaboradas em outras localidades, em outros centros preferencialmente mais desenvolvidos, buscam informações em congressos e publicações, por exemplo.
Revendo os primórdios de toda esta comunicação, Meadows constata que apesar de não haver precisão sobre quando ocorreram as primeiras comunicações do gênero, há um consenso sobre os gregos antigos serem considerados o povo que causou maior impacto nas atividades remotas de comunicação e que se firmou tradicional na forma escrita.
O surgimento de revistas cientificas ocorreu em meados do século XVII, naquela época os artigos apresentavam estrutura diferente do que é visto atualmente como por exemplo referências não padronizadas e quanto ao conteúdo preocupava-se muito em evitar temas polêmicos como política e religião.
Uma tendência mundial é a especialização do saber, cada campo acaba por ser estudado minuciosamente, e as áreas do saber acabam por ser fragmentadas, com isso os diversos temas são multiplicados e a produção do conhecimento aumenta cada vez mais em escala exponencial.
Pesquisadores profissionais produzem mais e direcionam seu produto aos pares enquanto os amadores e outros dirigem sua produção para o público em geral.
O aumento quantitativo da produção sem dúvida revela o crescimento das pesquisas e seus resultados, mas também se mistura à uma enorme quantidade de material supérfluo e desnecessário, causando uma “poluição” na bibliografia das áreas e atrapalhando a seleção dos melhores conteúdos.

Capítulo 2 – Tradições da pesquisa
Foram feitas numerosas tentativas ao longo dos anos para classificar o conhecimento em categorias básicas e os parâmetros utilizados variam grandemente, por exemplo, Ranganathan na Índia esboçou um esquema diferente da maioria dos esquemas ocidentais. No entanto existe um ponto em comum em todas as classificações: raramente produzem divisões marcantes entre diferentes disciplinas acadêmicas. Mesmo em esquemas elaborados especificamente para analisar o conhecimento e os programas de ensino, ainda ocorre o desencontro com as áreas temáticas.
Mesmo numa determinada matéria, diferentes ramos podem apresentar diferentes enfoques. Nos estudos bíblicos era usual distinguir entre “critica inferior” e “critica superior”. Melhor explicando, a critica inferior define significado de palavras e a critica superior estabelece estrutura teórica segundo a qual o texto bíblico seria interpretado. Esta divisão é muito comum nas humanidades.
A natureza das pesquisas na área de estudos literários sofreu mudanças no decorrer do tempo, antigamente era tarefa do especialista situar o texto no contexto, hoje muitos pesquisadores consideram primordial a interação do leitor com o texto. Também antigamente a pesquisa era mais especifica e empírica, hoje o genérico e teórico ganha espaço, especializações estritas não são tão dominantes sobre os trabalhos abrangentes com amplas generalizações interdisciplinares, como há tempos atrás.
Evolução do modelo conceitual: no século XX as ciências físicas e biológicas adotavam enfoques de pesquisa diferentes. Atualmente as duas ciências aproximam-se cada vez mais. O modelo conceitual que os biólogos têm de sua disciplina sofreu mudanças que o alinharam com o modelo dos cientistas físicos. Atualmente existem até mesmo cursos que englobam as duas áreas ao mesmo tempo, como por exemplo o curso de Ciências Físicas e Biomoleculares.
As matérias costumam ser classificadas no meio acadêmico em rígidas (ciências naturais e tecnologia), flexíveis (humanas) e as situadas no meio (ciências sociais), Esta classificação paradigmática é positivista e facilmente encontrada em qualquer área do conhecimento.
Um campo único de estudo normalmente mistura estes dois componentes, por exemplo: no campo das letras vemos a teoria literária que é muito flexível e vemos também a lingüística que se enquadra como uma teoria muito rígida. Um projeto de pesquisa também serve de exemplo ao passo que as idéias tendem a ser flexíveis enquanto espera-se que os resultados sejam rígidos.
A informação cientifica possui natureza cumulativa principalmente nas ciências exatas, as informações são compiladas e repassadas de forma a se atualizarem e trazerem embutido um conhecimento histórico e progressivo do assunto em questão, isso significa que de maneira geral os cientistas precisam analisar os trabalhos mais recentes para absorverem o conteúdo atualizado e necessário no momento presente.
Nas ciências sociais o conhecimento é menos cumulativo e as informações menos codificadas, e nas humanidades a literatura antiga pode até mesmo representar a matéria prima de suas investigações.
O modo como os trabalhos são escritos e analisados difere significativamente nas grandes áreas. Nas ciências exatas e tecnológicas, são analisados o feitio padronizado e a existência ou não de erros, enquanto que nas ciências humanas os avanços criativos são as maiores exigências para um trabalho ser bem classificado. Este é um dos motivos pelo qual as ciências exatas possuem maior número de trabalhos publicados e revistas especializadas. A quantidade de pesquisadores unida à área de ciências exatas e tecnológicas também é maior, o que provoca uma vantagem notável sobre a área de humanidades no que se refere a recursos e projetos em andamento.

Capítulo 3 – Quem pesquisa e com quais resultados?
Os motivos que levam uma pessoa a dedicar-se à pesquisa podem ser desde uma realização pessoal por investigar temas fascinantes para o indivíduo até o desejo de seguir carreira na área, tornando-se um pesquisador de renome e de sucesso.
Um estudo sobre os doutorandos norte-americanos mostrou os motivos pelos quais estes se dedicam à pós-graduação e à pesquisa. As razões relatadas em ordem decrescente foram: continuar o desenvolvimento intelectual; dar uma contribuição importante para o conhecimento na área; devido ao interesse intrínseco da área; preparar-se para uma carreira acadêmica; aumentar seu poder aquisitivo; servir melhor à humanidade. Mesmo supondo-se um exagero na pureza dos motivos relatados, a curiosidade intelectual se destaca como um motivo dominante.
Outro grande fator de motivação é a disponibilidade e variedade de empregos oferecidos para cada área. Quem ingressa na área de tecnológica ou social, tem pela frente possibilidade de emprego tanto na área industrial, pública ou acadêmica. O mesmo não acontece com a área de humanidades, onde as maiores possibilidades acontecem ligadas à área acadêmica.
A inteligência é um requisito exigido para qualquer pesquisador, além de segundo Meadows haver uma pré-disposição do individuo para uma área ou outra.
A medição da produtividade entre os cientistas é um desafio conflitante e ainda sem consenso sobre um método que garanta uma comparação confiável entre quem é mais ou menos produtivo. As ciências rígidas produzem mais artigos, enquanto as ciências humanas publicam mais livros. Ao se tentar fazer uma comparação da produção de artigos entre as ciências exatas e humanas, a primeira vence disparada, mas não é por isso que as ciências exatas podem ser consideradas as mais produtivas quantitativamente, pois em cada área as necessidades e possibilidades são diferentes. Se por um lado as exatas podem ser campeãs quantitativas, talvez as humanas possam ser então campeãs qualitativas. Uma comparação neste aspecto entre as áreas do conhecimento seria certamente desleal e sem nenhum resultado concreto ou de fato convincente.
A idade do pesquisador e sua produção também varia em cada área de atuação. De modo geral pesquisadores das ciências rígidas produzem mais entre 30 e 40 anos de idade enquanto a maioria dos trabalhos relevantes das ciências sociais e humanas tendem a ser produzidos após os 50 anos do pesquisador.
Quanto ao gênero de quem pesquisa, os homens ainda perfazem a maioria de maneira geral, sendo em algumas áreas ainda mais predominantes como é o caso das ciências consideradas rígidas. Mesmo havendo uma mudança sensível neste quadro, ele está ainda muito longe de ser equilibrado ou até mesmo invertido.

Capítulo 4 – Canais da comunicação científica
Além da tradicional e simplista comunicação oral face a face, outros meios mais desenvolvidos de comunicação são utilizados como periódicos impressos e as redes de computadores.
A maior diferença entre essas duas comunicações está na sua durabilidade, algo escrito seja impresso ou transmitido em linha perpetua-se e firma-se como válido bem mais do que uma conversa informal.
Uma compreensão de como os cientistas lêem, ou seja, de que maneira eles observam visualmente e processam no cérebro um texto, auxilia na elaboração de um modelo mais agradável e eficaz quanto à sua leitura e compreensão. Os textos possuem normalmente redundância sendo que uma leitura rápida até mesmo desprezando-se alguns parágrafos serve para uma compreensão pelo menos superficial do assunto. O mesmo não acontece com tabelas, gráficos e imagens, onde o grau de redundância é mínimo ou inexistente. Diferenças de contraste ou cor ocorrem em imagens chamando a atenção para o ponto fundamental a ser observado, por isso uma imagem oferece uma informação muito mais rápida e objetiva do que um texto extenso e repetitivo. Tabelas e gráficos possuem intuitivamente seus pontos de partida e conclusões. Textos muito longos e com letras miúdas desinteressam o leitor muito mais facilmente. “[...] Quanto mais necessário for extrair informação de modo rápido e eficiente, mais fundamental será que essa informação seja apresentada conforme uma estrutura apropriada” (p. 119).
O entendimento de um texto não depende apenas do conhecimento prévio do leitor, mas também da maneira como ele está sendo apresentado.
As editoras desempenham papel intermediário entre o autor e o leitor, uma de suas funções é a de receber o material e prepará-lo de maneira mais adequada para apresentação final. Também os bibliotecários intermediam esta comunicação codificando e armazenando de forma acessível o material publicado.
As bibliotecas ocupam lugar de destaque na divulgação a ponto de influenciarem tanto as editoras quanto os leitores. Ao passo que elas decidem grande parte do material a ser adquirido por serem os mais importantes compradores de publicações tanto impressas quanto on-line, interferem nas vendas das editoras e no material oferecido ao leitor. “[...] As bibliotecas possuem duas funções básicas: atuar como um arquivo de publicações e torná-las disponíveis para os leitores” (p. 133). A função dos bibliotecários em adquirir material adequado aos pesquisadores (e leitores em geral) é mais frutífera em paises desenvolvidos do que nos paises em desenvolvimento.
As fontes formais de comunicação impressa podem ser complementadas por comunicações orais e vice-versa, por exemplo em uma palestra, apresentações em retroprojetores de imagens e textos curtos enfatizam uma informação e suprem uma carência da comunicação oral. A leitura de um artigo trará maiores detalhes do que assistir uma palestra sobre ele. As diferenças básicas entre estas duas formas de transmissão do conhecimento estão na rapidez e conteúdo, melhor explicando, na comunicação oral há uma maior rapidez na apresentação das idéias, enquanto que na leitura de um artigo ou livro há uma maior e mais rápida absorção de conteúdo.
Os congressos e conferencias servem não somente para a comunidade cientifica assistir as apresentações dos pares, mas sim para manter contato com os pesquisadores já conhecidos e identificar possíveis novos colaboradores. Não são somente as apresentações que despertam interesse dos participantes, mas também as conversas durante os intervalos onde informações podem ser trocadas e novas parcerias podem ser firmadas.
Um problema atual durante os congressos é a quantidade exagerada de apresentações, o que diminui o tempo de cada comunicação dificultando a sua compreensão. Uma alternativa bem vinda atualmente é a apresentação de pôsteres, onde o autor posiciona-se ao lado de seu trabalho e os participantes podem dedicar tempo analisando e discutindo diretamente com o pesquisador de sua área de interesse, mas ainda assim há uma desvantagem nessa modalidade de apresentação que é a sua utilidade maior para alguns temas do que para outros. São nos congressos que as redes humanas de relacionamento têm uma ótima oportunidade de serem ampliadas.
A comunicação eletrônica cada vez mais ganha espaço com a vantagem de possuir um manuseio muito flexível, mas ao mesmo tempo com a desvantagem de causar preocupações no o que diz respeito ao direito autoral, já que a sua reprodução torna-se mais difícil de ser controlada do que a fotocópia tradicional.

Capítulo 5 – Tornando públicas as pesquisas
A apresentação oral de um trabalho precede a sua publicação. A evolução de uma pesquisa inicia com comunicações face a face, logo após com pequenos seminários e posteriormente com apresentações em congressos de maior porte, na conclusão a sua publicação é imprescindível para seu reconhecimento e divulgação no meio cientifico.
O término dos trabalhos para publicação de um doutorado, por exemplo, pode vir a acontecer tempos após a defesa da tese, o trabalho de escrita demanda tempo ainda que os resultados estejam prontos e satisfatórios, outro motivo é o engajamento do pesquisador em outro projeto ou a transferência para outros cargos. Uma tese pode originar um artigo, mas uma das diferenças obrigatórias entre eles é que a tese possui como único autor o proponente a obter o título, já o artigo pode conter o nome de uma equipe e, principalmente, o nome do orientador.
As áreas de ciências exatas promovem mais comunicações orais no desenvolvimento de pesquisas do que as áreas social e humanas, também as exatas finalizam um trabalho em menor tempo que as outras áreas.
A escolha sobre qual periódico publicar o trabalho concluído consiste em dois principais fatores: o prestigio do periódico e o público atingido por ele. O prestígio de um periódico depende de fatores como a publicação das melhores pesquisas pelos melhores pesquisadores e tempo de existência do mesmo, este tempo varia de área para área, para se ter uma idéia a idade para um periódico estabelecer boa reputação em uma área com crescimento acelerado pode ser o equivalente a uma década. “Prestígio e público andam juntos. Os leitores, como os autores, são atraídos pelos periódicos mais importantes, de modo que, ao publicar nesses periódicos, os autores têm mais probabilidade de atingir o público almejado” (p.167).
Livros demandam mais tempo para serem publicados do que artigos e também espera-se que sejam úteis por mais tempo para o leitor, o conteúdo de um livro costuma ser mais “duradouro” do que um artigo. Os procedimentos para publicação também diferem de livro para artigo, no primeiro são comuns contratos com a editora que aceita a idéia original antes mesmo da conclusão da obra, o que abre espaço para interferências da editora no produto final, já com os artigos os procedimentos são diferentes, normalmente não ocorre este tipo de contrato.
A aceitabilidade do material submetido é ponto em comum nas publicações tanto de livros quanto de periódicos. Os editores são os primeiros responsáveis por decidirem se uma colaboração será publicada e como será apresentada. Estes editores em geral procedem de instituições com reputação consolidada.
As especializações tornaram mais difícil a avaliação dos editores por dois motivos: aumentaram as submissões ao passo que aumentaram as subdivisões das pesquisas, e conseqüentemente reduziu-se a quantidade de avaliadores capazes de compreender satisfatoriamente os novos assuntos apresentados.
Um escore médio de pontuação é oferecido pela maioria dos periódicos aos seus avaliadores, os critérios mais pontuados são geralmente a originalidade, a correção e a importância da pesquisa relatada. Alguns dos problemas encontrados freqüentemente em trabalhos submetidos a um periódico sobre administração são: inexistência de teoria, descompasso entre teoria e investigação real, teoria mal definida, delineamento mal definido, argumentação mal estruturada e artigo mal escrito. Vale salientar que chama a atenção a carência de habilidade na escrita e na forma de comunicação em geral (que chegam a ser capazes de reprovar um artigo submetido), sendo que estamos falando de pesquisadores empenhados exclusivamente no meio acadêmico, pós-graduados, e considerados privilegiados intelectuais.
O caminho a percorrer até a publicação de um artigo pode trazer muito aborrecimento para o autor, quando o avaliador pode não entender bem suas palavras e sugerir muitas alterações ou responder com muitas criticas a avaliação de um artigo, isto comumente fere o ego do autor, e refazer as correções sugeridas pode ser um trabalho muito sacrificante e frustrante, ainda assim só não é mais traumático do que a recusa imediata do artigo.
A discriminação de gênero é uma preocupação durante o processo de avaliação, alguns editores recebem artigos sem informações sobre os autores a fim de evitar discriminações de gênero e também de ordem pessoal.

Capítulo 6 – Pesquisando sobre pesquisas (e conclusão)
A etapa posterior à elaboração e divulgação da ciência requer ainda estudos para uma atividade mais dinâmica e segura. Dependendo do modo como uma obra foi indexada, o sucesso na sua recuperação será positivo ou não no momento em que o leitor necessitar justamente do conteúdo depositado nela.
As fontes de informação crescem constantemente e as tecnologias também. Neste sentido pesquisadores com menos recursos e acesso a periódicos em linha sofrem grande desvantagem. Algo que permanece em comum entre todos os pesquisadores é a dificuldade em peneirar o material útil e inútil diante a oferta crescente de produção bibliográfica, principalmente em linha.
O turbilhão de informação despejado diariamente na sociedade (cientifica ou não), chama a atenção para o problema crescente que é o de selecionar o que é de fato importante e aceitável. Além do tipo de informação enfatizada aqui neste estudo, há também toda uma gama de transmissão para o público em geral via rádio, televisão, jornais de circulação local ou nacional, que também absorvem este crescimento informacional e transferem para a sociedade não cientifica, a seleção das fontes por estes veículos de comunicação realizada de forma irresponsável, acaba por direcionar a opinião pública, bem como informar equivocadamente o cidadão comum interessado em conhecer o mundo restrito das descobertas cientificas.

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