Entrevista Neide M. Osada - O gênero nas ciências
CIDADE DO CONHECIMENTO - Entrevista com Neide Mayumi Osada
A pesquisadora falou na entrevista que segue, concedida por e-mail à IHU On-Line sobre a sua dissertação Fazendo gênero nas ciências: uma análise das relações de gênero no projeto genoma da Fapesp, mulher e a produção do conhecimento e como está a pesquisa no Brasil. Confira a entrevista!
Neide Mayumi Osada possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1997) e mestrado em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (2006). Atualmente ela é pesquisadora da Cidade do Conhecimento da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Conhecimento, atuando nos seguintes temas: Gênero e Ciência, Mulher e Ciência, Biologia Molecular, Produção Científica, Projeto Genoma.
IHU On-Line - A senhora pode falar um pouco sobre a dissertação "Fazendo gênero nas ciências: uma análise das relações de gênero no projeto genoma da Fapesp"?
Neide Mayumi Osada - O tema da pesquisa, Ciência e Gênero, surgiu por influência da Cátedra Regional Unesco, Mulher, Ciência e Tecnologia na América Latina cujo ponto focal no Brasil é a Cidade do Conhecimento, projeto da qual participo desde a sua fundação. A definição do tema "projeto genoma" ocorreu pela importância que a Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo deu à Biologia Molecular, área da Biologia que abarca os projetos genomas. O investimento da Fapesp no período de 1997 a 2003, período em que ela conclui o programa genoma, foi de R$ 100 milhões. O investimento permitiu importantes transformações nos laboratórios de biologia molecular do Estado de São Paulo, capacitou pesquisadores, conseguiu grandes avanços na Biologia, colocou a pesquisa nacional na mídia internacional, demonstrou que o País produz conhecimento em áreas de ponta quando existe uma política científica que proporcione o seu desenvolvimento.
IHU On-Line - Como é desenvolvido pela senhora o tema Mulher e Ciência?
Neide Mayumi Osada - A pesquisa buscou entender como ocorre a participação da mulher na produção do conhecimento do projeto genoma e entender as razões pelas quais as mulheres avançam menos que seus pares homens, numa área como a biologia, ou seja, uma das áreas do conhecimento cuja participação feminina é mais equilibrada. Os dados da pesquisa apontam que as mulheres são maioria até o pós-doutorado, no corpo docente a participação da mulher é equilibrada entre os doutores e os livre-docentes, e elas são minoria entre os professores titulares. Na coordenação de importantes pesquisas coletivas, as mulheres coordenaram cerca de 40% dos projetos, ou seja projetos do tipo genoma, temático da Fapesp, Jovem pesquisador da Fapesp.
IHU On-Line - Como é a participação da mulher na produção científica no Brasil?
Neide Mayumi Osada - Podemos afirmar que o século XXI é o século das mulheres pelas conquistas sociais e nas ciências. A presença da mulher nas ciências da vida é eqüitativa, pelo menos nas posições iniciais e intermediárias da academia; nas ciências sociais e humanas não há dúvidas quanto aos avanços obtidos, e que não se limitam à presença igualitária, mas também às contribuições na produção do conhecimento. Nas ciências exatas e engenharias, a situação é preocupante, pois a presença feminina no corpo docente e discente de importantes instituições de ensino não ultrapassa a média de 15% do total de alunos e professores. Atualmente, as mulheres não sofrem nenhum tipo de preconceito declarado sobre a sua presença nas ciências brasileiras. No entanto, os homens continuam agindo de forma a garantir a hegemonia masculina nos postos mais elevados das ciências. A formulação do projeto genoma da Fapesp por um grupo composto por 18 pesquisadores, consultores e conselheiros da Fapesp, todos do sexo masculino, mostra que o "clube do bolinha" nas ciências existe. Pode-se dizer até que a formação desse "clube" não ocorreu de forma consciente. Durante a realização de uma das entrevistas, quando questionada a ausência das mulheres no grupo dos 18 que decidiram os rumos do projeto, o entrevistado não havia percebido a ausências delas, assim como não sabia explicar as razões para esta exclusão, no entanto, a sua expressão facial demonstrava constrangimento diante do questionamento.
IHU On-Line - De que forma a mulher delineia a sua carreira dentro da academia?
Neide Mayumi Osada - Na maioria das vezes, a construção da carreira científica da mulher ocorre a partir das oportunidades que surgem diante dela, pois as barreiras e os preconceitos são inúmeros. Durante a graduação elas são maioria, correspondendo a aproximadamente 60% dos alunos, na pós-graduação e no pós-doutorado elas ganharam cerca de 60% das bolsas disponibilizadas pela Fapesp na área da biologia, entre 1992 e 2005. No que se refere obtenção de recursos de pesquisa do tipo Jovem pesquisador - concedido a recém-doutores - temáticos - grandes projetos de pesquisa e genoma, elas ficaram com aproximadamente 40% dos recursos. A diferença é muito grande. Como é possível interpretar esses dados? Um dos pontos cruciais é a família que tem peso importante na construção da carreira de uma mulher, pois se ela tem filhos durante a pós-graduação, ela corre o risco de gerar menos resultados de pesquisa, na maioria das vezes é durante o doutorado e o pós-doc que surgirão as oportunidades de fazer um estágio no exterior, e numa área tão nova como a biologia molecular, não estagiar empobrece o currículo e gera conseqüências negativas sobre a carreira dessas pesquisadoras, enfim, são os "Efeitos Matildas" que impedem os avanços das mulheres nas carreiras científicas. O termo "efeito matilda" foi utilizado pela pesquisadora Margaret Rossiter em 1993 para falar das dificuldades da mulher nas ciências; um paralelo ao efeito Matheus estudado por Robert Merton, sociólogo da ciência, para falar do reconhecimento dos cientistas que estão no topo da carreira em detrimento aos jovens pesquisadores. Bem, Merton empresta o termo da bíblia, Mateus 13:12, "àqueles que têm será acrescentado, àqueles que não têm, será tirado".
Fonte (e texto completo) em http://www.cidade.usp.br/blog/2006/09/29/244/
A pesquisadora falou na entrevista que segue, concedida por e-mail à IHU On-Line sobre a sua dissertação Fazendo gênero nas ciências: uma análise das relações de gênero no projeto genoma da Fapesp, mulher e a produção do conhecimento e como está a pesquisa no Brasil. Confira a entrevista!
Neide Mayumi Osada possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1997) e mestrado em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (2006). Atualmente ela é pesquisadora da Cidade do Conhecimento da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Conhecimento, atuando nos seguintes temas: Gênero e Ciência, Mulher e Ciência, Biologia Molecular, Produção Científica, Projeto Genoma.
IHU On-Line - A senhora pode falar um pouco sobre a dissertação "Fazendo gênero nas ciências: uma análise das relações de gênero no projeto genoma da Fapesp"?
Neide Mayumi Osada - O tema da pesquisa, Ciência e Gênero, surgiu por influência da Cátedra Regional Unesco, Mulher, Ciência e Tecnologia na América Latina cujo ponto focal no Brasil é a Cidade do Conhecimento, projeto da qual participo desde a sua fundação. A definição do tema "projeto genoma" ocorreu pela importância que a Fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo deu à Biologia Molecular, área da Biologia que abarca os projetos genomas. O investimento da Fapesp no período de 1997 a 2003, período em que ela conclui o programa genoma, foi de R$ 100 milhões. O investimento permitiu importantes transformações nos laboratórios de biologia molecular do Estado de São Paulo, capacitou pesquisadores, conseguiu grandes avanços na Biologia, colocou a pesquisa nacional na mídia internacional, demonstrou que o País produz conhecimento em áreas de ponta quando existe uma política científica que proporcione o seu desenvolvimento.
IHU On-Line - Como é desenvolvido pela senhora o tema Mulher e Ciência?
Neide Mayumi Osada - A pesquisa buscou entender como ocorre a participação da mulher na produção do conhecimento do projeto genoma e entender as razões pelas quais as mulheres avançam menos que seus pares homens, numa área como a biologia, ou seja, uma das áreas do conhecimento cuja participação feminina é mais equilibrada. Os dados da pesquisa apontam que as mulheres são maioria até o pós-doutorado, no corpo docente a participação da mulher é equilibrada entre os doutores e os livre-docentes, e elas são minoria entre os professores titulares. Na coordenação de importantes pesquisas coletivas, as mulheres coordenaram cerca de 40% dos projetos, ou seja projetos do tipo genoma, temático da Fapesp, Jovem pesquisador da Fapesp.
IHU On-Line - Como é a participação da mulher na produção científica no Brasil?
Neide Mayumi Osada - Podemos afirmar que o século XXI é o século das mulheres pelas conquistas sociais e nas ciências. A presença da mulher nas ciências da vida é eqüitativa, pelo menos nas posições iniciais e intermediárias da academia; nas ciências sociais e humanas não há dúvidas quanto aos avanços obtidos, e que não se limitam à presença igualitária, mas também às contribuições na produção do conhecimento. Nas ciências exatas e engenharias, a situação é preocupante, pois a presença feminina no corpo docente e discente de importantes instituições de ensino não ultrapassa a média de 15% do total de alunos e professores. Atualmente, as mulheres não sofrem nenhum tipo de preconceito declarado sobre a sua presença nas ciências brasileiras. No entanto, os homens continuam agindo de forma a garantir a hegemonia masculina nos postos mais elevados das ciências. A formulação do projeto genoma da Fapesp por um grupo composto por 18 pesquisadores, consultores e conselheiros da Fapesp, todos do sexo masculino, mostra que o "clube do bolinha" nas ciências existe. Pode-se dizer até que a formação desse "clube" não ocorreu de forma consciente. Durante a realização de uma das entrevistas, quando questionada a ausência das mulheres no grupo dos 18 que decidiram os rumos do projeto, o entrevistado não havia percebido a ausências delas, assim como não sabia explicar as razões para esta exclusão, no entanto, a sua expressão facial demonstrava constrangimento diante do questionamento.
IHU On-Line - De que forma a mulher delineia a sua carreira dentro da academia?
Neide Mayumi Osada - Na maioria das vezes, a construção da carreira científica da mulher ocorre a partir das oportunidades que surgem diante dela, pois as barreiras e os preconceitos são inúmeros. Durante a graduação elas são maioria, correspondendo a aproximadamente 60% dos alunos, na pós-graduação e no pós-doutorado elas ganharam cerca de 60% das bolsas disponibilizadas pela Fapesp na área da biologia, entre 1992 e 2005. No que se refere obtenção de recursos de pesquisa do tipo Jovem pesquisador - concedido a recém-doutores - temáticos - grandes projetos de pesquisa e genoma, elas ficaram com aproximadamente 40% dos recursos. A diferença é muito grande. Como é possível interpretar esses dados? Um dos pontos cruciais é a família que tem peso importante na construção da carreira de uma mulher, pois se ela tem filhos durante a pós-graduação, ela corre o risco de gerar menos resultados de pesquisa, na maioria das vezes é durante o doutorado e o pós-doc que surgirão as oportunidades de fazer um estágio no exterior, e numa área tão nova como a biologia molecular, não estagiar empobrece o currículo e gera conseqüências negativas sobre a carreira dessas pesquisadoras, enfim, são os "Efeitos Matildas" que impedem os avanços das mulheres nas carreiras científicas. O termo "efeito matilda" foi utilizado pela pesquisadora Margaret Rossiter em 1993 para falar das dificuldades da mulher nas ciências; um paralelo ao efeito Matheus estudado por Robert Merton, sociólogo da ciência, para falar do reconhecimento dos cientistas que estão no topo da carreira em detrimento aos jovens pesquisadores. Bem, Merton empresta o termo da bíblia, Mateus 13:12, "àqueles que têm será acrescentado, àqueles que não têm, será tirado".
Fonte (e texto completo) em http://www.cidade.usp.br/blog/2006/09/29/244/
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