26 novembro 2006

Discriminação e poucas oportunidades atingem mulheres cientistas nos países latino-americanos

Daniela Oliveira

Seja no Brasil, no Uruguai ou até mesmo em Cuba, a situação é bem parecida: mulheres em minoria nas ciências exatas, homens ocupando os cargos mais altos e de maior prestígio
A imagem é a de uma pirâmide, com sua base larga que vai se afunilando até chegar ao topo estreito. Tanto na política como na C&T, as mulheres mantém-se na base, ou no início das carreiras. No topo, aparecem os homens, que conseguem mais facilmente conquistar e permanecer nas funções mais altas e de maior prestígio.
A analogia foi utilizada por Nilcéa Freire, ministra da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, na mesa-redonda 'Políticas Públicas em Ciência e Tecnologia na Perspectiva de Gênero', realizada na Conferência Ciência-Mulher 2004, no RJ.
Nilcéa Freire lembrou que, dentro da academia, os processos de discriminação e exclusão da mulher são sutis e sofisticados, mas igualmente perversos. 'Muitas vezes não nos damos conta do que acontece, já que estamos na Universidade ou em instituições de pesquisa, ambientes supostamente progressistas'.
A vice-presidente da SBPC, Dora Ventura, comentou uma série de situações de discriminação vividas por mulheres, e lembrou do caso do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, onde as pesquisadoras mediram com fita métrica seus laboratórios e verificaram que mesmo fisicamente ocupavam menos espaço que os homens.
E, ratificando o que já havia sido dito pelas demais participantes da mesa-redonda, apresentou uma série de dados referentes a bolsas de produtividade do CNPq, os quais apontavam a predominância das mulheres nas áreas humanas e sua menor presença nas ciências biológicas e exatas.
Dora Ventura afirmou que a SBPC vai contribuir para a elaboração dos programas propostos pelo MCT e pela Secretaria Especial da Mulher. Segundo ela, a questão do gênero será incluída nos estudos prospectivos que a SBPC vem realizando sobre a situação da Educação e da C&T no país.
Políticas públicas só podem ser pensadas em cima de dados, e isso ainda não temos. Vamos nos empenhar em reunir informações também sobre gênero', comprometeu-se Dora Ventura.
A afirmação da vice-presidente da SBPC foi ao encontro dos anseios das pesquisadoras presentes à conferência. A questão dos dados, especialmente sobre as demandas das mulheres cientistas e o que está sendo atendido pelas agências de fomento, foi cobrada por muitas participantes.
A diretora científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e atual presidente em exercício, Nidia Noemi Fabré, disse que vai incluir os dados sobre a demanda feminina dos auxílios de sua instituição.
Segundo ela, a participação feminina nos programas de apoio da Fapeam é similar a dos homens. Mas, semelhante ao resto do Brasil e possivelmente do mundo, a maior presença é nas áreas humanas, sociais e biológicas.
Nídia Fabré entende que a área multidisciplinar pode ser um meio de reverter este quadro na Amazônia. 'Talvez fosse o caso de se pensar em desenvolver políticas de sustentabilidade ambiental, por exemplo, conduzidas por mulheres'.
Presente ao primeiro dia da Ciência-Mulher 2004, Sara Teixeira, de 18 anos, é prova de que as novas gerações também estão preocupadas com a questão da mulher na ciência.
Bolsista de iniciação científica da Fiocruz há cerca de dois anos, a estudante afirma que ainda não sofreu preconceito ou teve alguma dificuldade por sua condição feminina. Mas ela acredita que, ao longo de suas trajetórias profissionais, passarão por isso.
Acho que o homem ainda é muito valorizado no meio científico, tem mais crédito e até mais prestígio na carreira. Mas acho que a mulher a cada ano vem conseguindo virar o jogo', considera Sara, que pretende cursar Farmácia e continuar na área de pesquisa.

Publicado no Jornal da Ciência (JC E-mail) – Edição 2649, 18 de novembro de 2004 - Notícias de C&T - Serviço da SBPC.

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