28 janeiro 2009

A burra opção pelo atraso da ciência

Artigo de Odenildo Sena

“[Corte em C&T] significará o trágico comprometimento das metas estabelecidas para a área, com consequências danosas e irreparáveis para o futuro da nação brasileira”.

Odenildo Sena é diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam) e presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap). Artigo publicado no portal da Fapeam:

Dia desses eu fazia referência à decisão ousada do novo presidente americano em aumentar substancialmente os recursos para ciência e tecnologia. Não surpreenderia a ninguém e seria visto como algo absolutamente rotineiro se seu país, onde teve origem essa crise econômica que já se espraia pelo mundo afora, não estivesse sofrendo graves e pesadas consequências dessa tempestade cujo fim não se vislumbra sequer a famosa luzinha no fim do túnel.

Qual é essa lógica às avessas? A resposta me parece evidente. A hegemonia dos Estados Unidos, ao longo de seguidas décadas, sempre se deveu ao fato daquele país ditar os rumos do avanço tecnológico aos quatro cantos do mundo. Diferente de tantos e tantos outros países que, historicamente, se conformam com a condição de meros consumidores de tecnologia, os Estados Unidos são produtores de tecnologia em todas as áreas do conhecimento. Isso faz toda a diferença!

Os americanos sabem que a negligência nessa área é um risco que não pode ser corrido, sob pena de ameaça a sua soberania. Eles não perdem de vista a posição de países que, se há tão pouco tempo eram competitivamente apagados, para ficar só nos exemplos de China, Coreia e Índia, hoje despontam como nações que, justamente por terem privilegiado a produção de tecnologia, seguindo a lição americana, caminham para assegurar sua vaga no disputado universo das potências mundiais.

No caso particular do Brasil, é inegável que o governo Lula tem privilegiado desde 2003 investimentos em C&T, ao ponto de, pela primeira vez na história, ter lançado um plano nacional de ciência e tecnologia, com perspectivas de médio e longo prazos, com vistas a resguardar a soberania do país e lhe assegurar um espaço de vanguarda frente a outras nações.

Isso passa pelo desafio de saltar os investimentos dos atuais 1% do PIB para, pelo menos, 1,5% até o final deste ano, além de aumentar, de maneira ousada, a formação de capital intelectual – atualmente formam-se 10 mil doutores por ano, o que ainda é muito pouco para as necessidades do país. A se manter esse ritmo, a expectativa é de que, num prazo razoável, o nosso país reverta o quadro atual, deixando de ser mero consumidor para ser produtor de tecnologia.

A depender, entretanto, da proposta do senador Delcídio Amaral (imaginem se ele não fosse do PT!), responsável pela peça orçamentária para o corrente ano, os investimentos em ciência e tecnologia no país serão reduzidos em 18%, o que representará 1,1 bilhão a menos e significará o ¬trágico comprometimento das metas estabelecidas para a área, com consequências danosas e irreparáveis para o futuro da nação brasileira. Difícil entender essa burra e perversa opção pelo atraso do país.
(Notícias da Fapeam, 27/1)

Fonte: JC e-mail 3689, de 27 de Janeiro de 2009.

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