24 janeiro 2009

Novas perspectivas nos Estados Unidos

Artigo de Wanderley de Souza

“Dados indicam claramente que a ciência americana passará por uma fase de crescimento significativo nos próximos anos”

Wanderley de Souza é ex-secretário estadual de Ciência e Tecnologia do RJ e diretor de programas do Inmetro. Artigo publicado no “Jornal do Brasil”:

É amplamente conhecido que a atividade científica e tecnológica tem nos Estados Unidos da América do Norte a sua base principal. Afinal, por muitos anos, este país é líder inconteste no número de artigos publicados em revistas internacionais indexadas, contribuindo com cerca de 350 mil publicações em revistas de circulação internacional.

Como comparação, a segunda e a terceira posições são ocupadas pela China e pelo Reino Unido, que publicaram, respectivamente, cerca de 180 mil e 110 mil artigos. Esta invejável posição dos EUA, que permitiu ao país conquistar a liderança em quase todas as áreas do conhecimento, é conseqüência de uma política de investimentos na atividade científica, inicialmente surgida no ambiente universitário. No entanto, logo se espalhou para instituições tecnológicas e centros de pesquisa e desenvolvimento de empresas.

Para que tudo isto ocorresse, recursos significativos vêm sendo investidos por órgãos americanos como o Instituto Nacional de Saúde (NHI), a Fundação Nacional de Ciência (NSF), os departamentos de Energia, Agricultura, Defesa, etc. Por outro lado, um número crescente de fundações privadas, entre as quais destaca-se no momento a Fundação Melinda e Bill Gates, oferecem apoio importante a projetos relevantes em várias áreas do conhecimento.

O que há de novo no cenário da ciência norte-americana? Primeiro, o presidente eleito Barack Obama anunciou que os Estados Unidos irão dobrar, em um período de 10 anos, os investimentos em ciência e tecnologia, visando a consolidar sua posição de liderança nesta área, considerada por todos como fator predominante do desenvolvimento econômico.

Tais investimentos serão realizados por vários órgãos do governo, sobretudo o NIH, a NSF e o Departamento de Energia. Para assegurar tal intenção, o presidente eleito organizou uma equipe de craques. Para comandar o Departamento de Energia irá o professor Steven Chou, eminente físico, que deu contribuições importantes ao estudo da colisão de laser e que ocupou posições importantes no Bell Labs e na Universidade de Stanford.

Há cerca de um ano, fiz parte de uma delegação governamental para estabelecer cooperação na área de bioenergia. Lá, tive a oportunidade de visitar o conhecido Lawrence Berkeley National Laboratory, onde Steven Chou também lidera um grupo de pesquisas na área de bioenergia, priorizando o estudo de alternativas no aproveitamento da biomassa. Baseado nas reuniões que tivemos com toda a sua equipe, certamente a identificação de novas fontes de energia renovável será uma prioridade da sua atuação.

Cabe ainda lembrar que, por seus importantes trabalhos, Steven recebeu, em 1997, o Prêmio Nobel de Física. Para a assessoria direta da área de ciência e tecnologia, Obama convidou outros três grandes nomes da ciência americana contemporânea, como John Holder, presidente da Associação Americana para o Progresso da Ciência, equivalente à nossa SBPC. Este pesquisador, que é um importante dirigente de um centro de pesquisas na área das ciências ambientais e das mudanças climáticas globais na Universidade de Harvard, assumirá a coordenação da assessoria de Ciência e Tecnologia, posição com status de ministro.

Junto a John Holder, o presidente contará ainda com a colaboração de dois líderes da ciência biomédica americana. O primeiro é Harold Varmus, atual presidente do Memorial Sloan Kettering Cancer Center de New York, certamente um dos mais importantes centros de pesquisa na área da oncologia. Harold foi ainda presidente do NIH no período de 1993 a 1999 – durante a gestão de Bill Clinton – ocasião em que dobrou o orçamento do NIH. Seus trabalhos com retrovirus, realizados na Universidade da Califórnia, em São Francisco, o levaram ao Prêmio Nobel, que recebeu em 1989.

Harold tem sido um grande incentivador da ciência nos países em desenvolvimento. Durante uma de suas visitas ao Brasil, o levei para um encontro com a governadora Rosinha Garotinho, ocasião em que, com seus argumentos, contribuiu para que a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa (Faperj) alcançasse a posição de relevo que hoje ocupa no apoio à pesquisa científica no estado do Rio de Janeiro.

Outro assessor do novo presidente americano será Eric Lander, professor de biologia do famoso MIT e um dos líderes do projeto Genoma Humano, de grande repercussão mundial.

Todos estes dados indicam claramente que a ciência americana passará por uma fase de crescimento significativo nos próximos anos. Os primeiros comentários indicam que a nova equipe deverá utilizar a conhecida estratégia que teve êxito no passado, de recrutar bons pesquisadores em todo o mundo, oferecendo excelentes condições de trabalho.
(Jornal do Brasil, 22/1)

Fonte: JC e-mail 3687, de 23 de Janeiro de 2009.

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