Ciência e Vida Severina
Artigo de Allan Kardec Barros
O Instituto ainda é um menino. Quatro anos. E, no entanto, e apesar de tudo está aparecendo como um projeto belo, construído por vários corações cuja liderança Miguel assume com gentileza exemplar.
Allan Kardec Barros é professor do Depto. Eng. Elétrica da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), pesquisador nível 1 do CNPq.
Estive no último final de semana em Natal. Mais precisamente para o II Simpósio de Neurociências de Natal.
Concomitantemente, houve a inauguração de novas unidades do Instituto de Neurociências de Natal (INN), assim como a mudança de nome para INN-ELS, em homenagem Edmond e Lily Safra, esta última defensora da iniciativa.
Conheci Miguel Nicolelis há alguns anos em Duke, nos Estados Unidos, na universidade que ele atua. Ainda usava barba e queria mostrar ao menino que mal estava terminando o mestrado as coisas que ele fazia.
Lembro que ele me mostrou alguns eletrodos minúsculos que à época provavelmente ele seria o único no mundo a utilizar e implantar em cérebros de camundongos.
Ele chegou a enviar também uma mensagem à bras-net, uma rede ainda incipiente na incipiente Internet, sobre um trabalho dele publicado em revista de grande respeito.
Para quem mora fora, e eu estava no Japão na época, era um alívio e um estímulo saber que tinha um brasileiro trabalhando e produzindo bem lá fora. Principalmente por causa da competitividade. Isso aconteceu lá pelos idos de 1994.
Voltei a reencontrá-lo agora, emocionado, lendo em público uma carta do presidente Lula por conta da iniciativa do INN-ELS.
A voz engasgada no final da leitura traduzia o tom e a grandeza do trabalho, de quem se sente recompensado, não pelos proventos financeiros, não pelas personalidades importantes que lá estavam ou outras coisas que a status quo tanto admira e incensa. Mas pelo fato de conseguir rasgar o véu da noite e romper as fronteiras do atraso que nos coloca o Brasil com indicadores sociais vergonhosos.
O Instituto ainda é um menino. Quatro anos. E, no entanto, e apesar de tudo está aparecendo como um projeto belo, construído por vários corações cuja liderança Miguel assume com gentileza exemplar.
De um lado, a alta tecnologia, o rótulo e o carimbo de nomes internacionais que o incentiva, aplaude e contribui. Prêmios Nobel inclusive.
De outro, o trabalho social: mulheres assistidas, meninos educados e um formato de auto-sustentabilidade interessantíssimo. Com um grupo forte, o trabalho evolui de vento em popa.
E, no meio do caminho, os interesses políticos. A pedra. Apesar da iniciativa solitária. Apesar da boa vontade. Apesar do custo familiar. Apesar do custo econômico pessoal, Miguel insistiu na idéia.
Mriganka Sur, do Instituto Tecnológico de Massachusetts elogiou o cientista. Falou, com grande sensibilidade, de seu país e do fato de iniciativas como essas serem importantes para “nós do Terceiro Mundo”.
Li no jornal, no dia seguinte à inauguração que nem a governadora do Rio Grande do Norte nem o prefeito da capital o recebem ultimamente. Triste.
Não é fácil construir. Principalmente em realidade como a do Nordeste. Além do sol e da seca, conspiram contra a região forças poderosas que trabalham não pela construção de novas realidades, não pela competência e competitividade que levem cada vez mais melhorias ao povo, mas provavelmente pelo que mais atrapalha.
É aquela estória da mentalidade do caranguejo: “quando um sobe, o outro puxa”. Daí, ninguém sai do lugar.
Alguém, em uma roda de conversas, comentou ao meu lado que Miguel “teria de se adaptar à realidade”. Reagi. Quem quer construir tem que desafiar.
O Nordeste tem progredido, aqui e ali. Alguns com apoio oficial, como a recente Rede Nordeste de Biotecnologia – que com certeza terá um impacto enorme na educação, saúde e economia da região, ou iniciativas locais como o Porto Digital do Recife.
E, ironicamente, tudo o que Nicolelis queria era uma pequena rua: simbolicamente ela serve para ligar. Eles negam.
À luta, grande Miguel!
Fonte: JC e-mail 3212, de 28 de fevereiro de 2007.
O Instituto ainda é um menino. Quatro anos. E, no entanto, e apesar de tudo está aparecendo como um projeto belo, construído por vários corações cuja liderança Miguel assume com gentileza exemplar.
Allan Kardec Barros é professor do Depto. Eng. Elétrica da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), pesquisador nível 1 do CNPq.
Estive no último final de semana em Natal. Mais precisamente para o II Simpósio de Neurociências de Natal.
Concomitantemente, houve a inauguração de novas unidades do Instituto de Neurociências de Natal (INN), assim como a mudança de nome para INN-ELS, em homenagem Edmond e Lily Safra, esta última defensora da iniciativa.
Conheci Miguel Nicolelis há alguns anos em Duke, nos Estados Unidos, na universidade que ele atua. Ainda usava barba e queria mostrar ao menino que mal estava terminando o mestrado as coisas que ele fazia.
Lembro que ele me mostrou alguns eletrodos minúsculos que à época provavelmente ele seria o único no mundo a utilizar e implantar em cérebros de camundongos.
Ele chegou a enviar também uma mensagem à bras-net, uma rede ainda incipiente na incipiente Internet, sobre um trabalho dele publicado em revista de grande respeito.
Para quem mora fora, e eu estava no Japão na época, era um alívio e um estímulo saber que tinha um brasileiro trabalhando e produzindo bem lá fora. Principalmente por causa da competitividade. Isso aconteceu lá pelos idos de 1994.
Voltei a reencontrá-lo agora, emocionado, lendo em público uma carta do presidente Lula por conta da iniciativa do INN-ELS.
A voz engasgada no final da leitura traduzia o tom e a grandeza do trabalho, de quem se sente recompensado, não pelos proventos financeiros, não pelas personalidades importantes que lá estavam ou outras coisas que a status quo tanto admira e incensa. Mas pelo fato de conseguir rasgar o véu da noite e romper as fronteiras do atraso que nos coloca o Brasil com indicadores sociais vergonhosos.
O Instituto ainda é um menino. Quatro anos. E, no entanto, e apesar de tudo está aparecendo como um projeto belo, construído por vários corações cuja liderança Miguel assume com gentileza exemplar.
De um lado, a alta tecnologia, o rótulo e o carimbo de nomes internacionais que o incentiva, aplaude e contribui. Prêmios Nobel inclusive.
De outro, o trabalho social: mulheres assistidas, meninos educados e um formato de auto-sustentabilidade interessantíssimo. Com um grupo forte, o trabalho evolui de vento em popa.
E, no meio do caminho, os interesses políticos. A pedra. Apesar da iniciativa solitária. Apesar da boa vontade. Apesar do custo familiar. Apesar do custo econômico pessoal, Miguel insistiu na idéia.
Mriganka Sur, do Instituto Tecnológico de Massachusetts elogiou o cientista. Falou, com grande sensibilidade, de seu país e do fato de iniciativas como essas serem importantes para “nós do Terceiro Mundo”.
Li no jornal, no dia seguinte à inauguração que nem a governadora do Rio Grande do Norte nem o prefeito da capital o recebem ultimamente. Triste.
Não é fácil construir. Principalmente em realidade como a do Nordeste. Além do sol e da seca, conspiram contra a região forças poderosas que trabalham não pela construção de novas realidades, não pela competência e competitividade que levem cada vez mais melhorias ao povo, mas provavelmente pelo que mais atrapalha.
É aquela estória da mentalidade do caranguejo: “quando um sobe, o outro puxa”. Daí, ninguém sai do lugar.
Alguém, em uma roda de conversas, comentou ao meu lado que Miguel “teria de se adaptar à realidade”. Reagi. Quem quer construir tem que desafiar.
O Nordeste tem progredido, aqui e ali. Alguns com apoio oficial, como a recente Rede Nordeste de Biotecnologia – que com certeza terá um impacto enorme na educação, saúde e economia da região, ou iniciativas locais como o Porto Digital do Recife.
E, ironicamente, tudo o que Nicolelis queria era uma pequena rua: simbolicamente ela serve para ligar. Eles negam.
À luta, grande Miguel!
Fonte: JC e-mail 3212, de 28 de fevereiro de 2007.
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