Informar, educar e entreter
A disseminação do conhecimento tem sido o propósito da BBC desde sua fundação, informou Jana Bennett, diretora geral de televisão e internet da emissora, na abertura da Mostra Ver Ciência, na semana passada.
“A BBC começou há mais de 80 anos como a primeira emissora nacional nos dias do rádio. Hoje são oito estações digitais nacionais e 47 estações regionais locais de rádio no Reino Unido”, contou Jana Bennett, na palestra que abriu a Mostra Ver Ciência, integrada a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia desde 2004, no Planetário do Rio de Janeiro, na noite de 22/10.
Jana Bennett ingressou na emissora pública britânica em 1979, tendo trabalhado em diversos programas de notícias, atualidades e ciências até ser nomeada, em 1990, editora-chefe da prestigiosa série de programas científicos Horizon, no ar há mais de 40 anos.
Em 1994 assumiu a chefia do Departamento de Ciência, tendo sido condecorada em 2000 pela Rainha Elisabeth com a Ordem do Império Britânico por seu trabalho com Ciência na TV. Em 2006 foi nomeada diretora da BBC Vision, o maior grupo de produção multimídia do mundo.
Uma das maiores preocupações da maior emissora pública do mundo sempre foi com a disseminação do conhecimento e a difusão da cultura científica que, de acordo com Jana Bennett, não tem só a ver com informação ou fatos.
“Ela acontece no momento em que a pessoa consegue fazer conexões entre as informações. E para isso a BBC se concentra em três conceitos: importância, relevância e capacidade de interpretar a informação e, através disso, estabelecer o poder de conexão”, explica Jana.
Com relação ao primeiro conceito, a diretora da BBC acredita que é possível identificar o que é importante conhecer e que há áreas dentro do cânone de conhecimento formal que exprimem o melhor da cultura mundial. “Essas áreas dão às pessoas as ferramentas intelectuais de que elas precisam para agir como cidadãos participativos no mundo moderno”.
Para a BBC, o que é importante saber engloba os principais conteúdos da Ciência, História, História Natural, Arte, Cultura, Religião, Atualidades e Negócios. Para cobrir todas essas áreas, a emissora investe em equipes especializadas de excelência e terceiriza em torno de 40% de sua programação para produtores independentes.
Ela explica que na maioria dos países do mundo a televisão se desenvolveu a partir do modelo de cinema e do teatro, baseando-se em dramaturgia e entretenimento. No caso da BBC, o modelo era de programas de rádio, redigidos por especialistas pioneiros que deram à BBC esse tom de produção documental que mantém até hoje.
Jana afirma que os profissionais de mídia não podem ter medo dos desafios que a ciência apresenta. “A experiência da BBC mostra que ciência pode ser popular se for bem comunicada”, defende Jana Bennett. A grande lacuna na compreensão da ciência influi no valor que a sociedade dá à ciência. Recentemente, a BBC conduziu uma pesquisa com mil colegiais sobre o que queriam ser quando crescessem e apenas 20% queriam ser cientistas que ganhassem o Prêmio Nobel.
“Em contrapartida, a maioria das meninas escolheu Katie Price, famosa modelo da Grã-Bretanha, como a mulher que mais admiram. Isso demonstra a falta de conhecimento e de interesse do jovem por ciência, o que traz sérias conseqüência para o futuro”, relata Jana.
Daí o segundo conceito valorizado pela BBC, a relevância do conteúdo. “A noção de relevância para nós pode ser interpretada de diferentes formas. Pode ser o assunto ou o tratamento do assunto. Mas seja qual for a interpretação de relevância, o resultado deve ser conectar-se com a vida das pessoas, partindo do ponto de vista do espectador”. Ela destaca que a emissora busca elaborar uma programação que permita alcançar o público através de suas paixões e necessidades.
Para tanto, a equipe da BBC procura adaptar a abordagem dos mais diferentes conteúdos científicos de forma a abarcar diferentes segmentos da população, especialmente os jovens. E funciona. “Nesta última pesquisa, descobrimos que 93% das pessoas entre 15 e 34 anos no Reino Unido conhecem algum programa da BBC. Usamos rostos conhecidos para ajudar a trazer um público maior para assuntos difíceis.”
Outro aspecto destacado pela diretora da BBC é a integração entre a televisão e a internet. “A emissora tem investido em desenvolver novos formatos que sejam adequados para a internet e até para celulares. É fundamental abranger as novas mídias”, disse Jana.
Uma experiência bem sucedida que tiveram nesse sentido foi um programa sobre exploradores intrépidos numa jornada épica pelo rio Amazonas. “Trechos da série começaram a ser divulgados na internet quase um ano antes do programa ir ao ar na TV. Na internet é passado o sabor da experiência, ainda fresca, é uma versão mais bruta, menos editada dos eventos”.
Jana avalia que a experiência da internet não tira o impacto do programa na TV, mas estabelece uma plataforma cruzada que vem redefinindo a relação da BBC com o seu público.
No futuro, Jana Bennett aposta numa tecnologia de comunicação com um caráter de rede, “disseminando o conhecimento como um vírus”. Ela destaca que isso leva a perceber o que uma emissora pública na era digital pode se tornar. Mas há uma grande preocupação de sua parte em como esse conhecimento é e será assimilado pelo público, o terceiro conceito que orienta a prática da BBC. A palavra em inglês, literacy, pode ser compreendida como alfabetismo, ou seja, o oposto do analfabetismo.
Jana parte do princípio de que existe uma definição padrão do que é saber ler e escrever, mas há um aspecto mais importante, que é saber interpretar - saber ler a informação e aplicar o conteúdo aprendido para resolver problemas.
“Ver o mundo de forma diferente do que se via anteriormente. É a interpretação e o entendimento das principais questões”, esclarece Jana. Para ela, a alfabetização pela mídia significa possibilitar que o público faça bom uso da informação, que facilite o entendimento da tecnologia que transforma o nosso mundo e o nosso cotidiano.
“Entender o mundo do conhecimento, que nos permite desfrutar melhor de nossas vidas e fazer com que elas sejam mais satisfatórias é necessário também para que participemos integralmente da sociedade em que vivemos. Por isso é que a disseminação do conhecimento é tão importante para a BBC e para todos os que acreditam e investem na democracia”, encerrou a palestrante.
(Notícias da ABC, 28/10)
Fonte: JC e-mail 3630, de 29 de Outubro de 2008.
“A BBC começou há mais de 80 anos como a primeira emissora nacional nos dias do rádio. Hoje são oito estações digitais nacionais e 47 estações regionais locais de rádio no Reino Unido”, contou Jana Bennett, na palestra que abriu a Mostra Ver Ciência, integrada a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia desde 2004, no Planetário do Rio de Janeiro, na noite de 22/10.
Jana Bennett ingressou na emissora pública britânica em 1979, tendo trabalhado em diversos programas de notícias, atualidades e ciências até ser nomeada, em 1990, editora-chefe da prestigiosa série de programas científicos Horizon, no ar há mais de 40 anos.
Em 1994 assumiu a chefia do Departamento de Ciência, tendo sido condecorada em 2000 pela Rainha Elisabeth com a Ordem do Império Britânico por seu trabalho com Ciência na TV. Em 2006 foi nomeada diretora da BBC Vision, o maior grupo de produção multimídia do mundo.
Uma das maiores preocupações da maior emissora pública do mundo sempre foi com a disseminação do conhecimento e a difusão da cultura científica que, de acordo com Jana Bennett, não tem só a ver com informação ou fatos.
“Ela acontece no momento em que a pessoa consegue fazer conexões entre as informações. E para isso a BBC se concentra em três conceitos: importância, relevância e capacidade de interpretar a informação e, através disso, estabelecer o poder de conexão”, explica Jana.
Com relação ao primeiro conceito, a diretora da BBC acredita que é possível identificar o que é importante conhecer e que há áreas dentro do cânone de conhecimento formal que exprimem o melhor da cultura mundial. “Essas áreas dão às pessoas as ferramentas intelectuais de que elas precisam para agir como cidadãos participativos no mundo moderno”.
Para a BBC, o que é importante saber engloba os principais conteúdos da Ciência, História, História Natural, Arte, Cultura, Religião, Atualidades e Negócios. Para cobrir todas essas áreas, a emissora investe em equipes especializadas de excelência e terceiriza em torno de 40% de sua programação para produtores independentes.
Ela explica que na maioria dos países do mundo a televisão se desenvolveu a partir do modelo de cinema e do teatro, baseando-se em dramaturgia e entretenimento. No caso da BBC, o modelo era de programas de rádio, redigidos por especialistas pioneiros que deram à BBC esse tom de produção documental que mantém até hoje.
Jana afirma que os profissionais de mídia não podem ter medo dos desafios que a ciência apresenta. “A experiência da BBC mostra que ciência pode ser popular se for bem comunicada”, defende Jana Bennett. A grande lacuna na compreensão da ciência influi no valor que a sociedade dá à ciência. Recentemente, a BBC conduziu uma pesquisa com mil colegiais sobre o que queriam ser quando crescessem e apenas 20% queriam ser cientistas que ganhassem o Prêmio Nobel.
“Em contrapartida, a maioria das meninas escolheu Katie Price, famosa modelo da Grã-Bretanha, como a mulher que mais admiram. Isso demonstra a falta de conhecimento e de interesse do jovem por ciência, o que traz sérias conseqüência para o futuro”, relata Jana.
Daí o segundo conceito valorizado pela BBC, a relevância do conteúdo. “A noção de relevância para nós pode ser interpretada de diferentes formas. Pode ser o assunto ou o tratamento do assunto. Mas seja qual for a interpretação de relevância, o resultado deve ser conectar-se com a vida das pessoas, partindo do ponto de vista do espectador”. Ela destaca que a emissora busca elaborar uma programação que permita alcançar o público através de suas paixões e necessidades.
Para tanto, a equipe da BBC procura adaptar a abordagem dos mais diferentes conteúdos científicos de forma a abarcar diferentes segmentos da população, especialmente os jovens. E funciona. “Nesta última pesquisa, descobrimos que 93% das pessoas entre 15 e 34 anos no Reino Unido conhecem algum programa da BBC. Usamos rostos conhecidos para ajudar a trazer um público maior para assuntos difíceis.”
Outro aspecto destacado pela diretora da BBC é a integração entre a televisão e a internet. “A emissora tem investido em desenvolver novos formatos que sejam adequados para a internet e até para celulares. É fundamental abranger as novas mídias”, disse Jana.
Uma experiência bem sucedida que tiveram nesse sentido foi um programa sobre exploradores intrépidos numa jornada épica pelo rio Amazonas. “Trechos da série começaram a ser divulgados na internet quase um ano antes do programa ir ao ar na TV. Na internet é passado o sabor da experiência, ainda fresca, é uma versão mais bruta, menos editada dos eventos”.
Jana avalia que a experiência da internet não tira o impacto do programa na TV, mas estabelece uma plataforma cruzada que vem redefinindo a relação da BBC com o seu público.
No futuro, Jana Bennett aposta numa tecnologia de comunicação com um caráter de rede, “disseminando o conhecimento como um vírus”. Ela destaca que isso leva a perceber o que uma emissora pública na era digital pode se tornar. Mas há uma grande preocupação de sua parte em como esse conhecimento é e será assimilado pelo público, o terceiro conceito que orienta a prática da BBC. A palavra em inglês, literacy, pode ser compreendida como alfabetismo, ou seja, o oposto do analfabetismo.
Jana parte do princípio de que existe uma definição padrão do que é saber ler e escrever, mas há um aspecto mais importante, que é saber interpretar - saber ler a informação e aplicar o conteúdo aprendido para resolver problemas.
“Ver o mundo de forma diferente do que se via anteriormente. É a interpretação e o entendimento das principais questões”, esclarece Jana. Para ela, a alfabetização pela mídia significa possibilitar que o público faça bom uso da informação, que facilite o entendimento da tecnologia que transforma o nosso mundo e o nosso cotidiano.
“Entender o mundo do conhecimento, que nos permite desfrutar melhor de nossas vidas e fazer com que elas sejam mais satisfatórias é necessário também para que participemos integralmente da sociedade em que vivemos. Por isso é que a disseminação do conhecimento é tão importante para a BBC e para todos os que acreditam e investem na democracia”, encerrou a palestrante.
(Notícias da ABC, 28/10)
Fonte: JC e-mail 3630, de 29 de Outubro de 2008.
Marcadores: Divulgação científica
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